Guiné-Bissau: Jovens colocam desafios ao futuro Presidente
28 de dezembro de 2019O 12º Presidente da Guiné-Bissau terá o desafio de garantir a estabilidade política e governativa, mas sobretudo criar um amplo consenso nacional para um novo pacto social e a reconciliação nacional. O país está divido.
As grandes reformas do Estado e a revisão constitucional são outros assuntos quentes à espera do sucessor de José Mário Vaz, dizem observadores atentos à situação política guineense.
Para a votação deste domingo (29.12), Saturnino de Oliveira entende que o grande desafio é conseguir mobilizar os eleitores a irem votar, para reduzir a alta taxa de abstenção da primeira volta, situada em 25%. O jovem ativista diz à DW África que a eleição do novo Presidente não é o fim do ciclo.
"Outro grande desafio é conseguir perceber que estas eleições não significam o fim da linha. Temos ainda a possibilidade de construirmos juntos o nosso país e, para isso, é [necessário] que a votação decorra de forma cívica, respeitando os princípios básicos de um país democrático", sublinha.
Críticas à divisão
Os dois candidatos que disputam a presidência da Guiné-Bissau - Domingos Simões Pereira (PAIGC) e Umaro Sissoco Embaló (MADEM-G15) - percorreram o país inteiro durante 15 dias para apresentar aos mais de 760 mil eleitores os respetivos manifestos políticos.
"Os manifestos, sendo programas concebidos no gabinete, claramente trazem aquilo que é o mais importante, politicamente correto”, considera o jovem ativista. "Entretanto, não estou contente com a postura dos candidatos durante a campanha eleitoral. Obviamente, ouviu-se falar muito das questões étnicas e religiosas, a questão do tribalismo. Os dois candidatos não tiveram discursos que incentivassem os seus apoiantes a se absterem da divisão", avalia Saturnino de Oliveira.
Votar por um futuro melhor
Adama Baldé é uma das jovens que têm dado o seu rosto para a afirmação da liderança feminina como alternativa ao insucesso dos líderes guineenses. Ela é atualmente a vice-presidente da Rede Nacional das Associações Juvenis da Guiné-Bissau (RENAJ), que congrega mais de 100 organizações de jovens. À DW África, não esconde a sua expetativa em ver o país a encontrar soluções que possam responder aos ensejos do povo guineense.
"Sobretudo, recuperar a esperança dos jovens guineenses e acreditar que é possível projetar uma Guiné-Bissau com estabilidade política e igualdade de oportunidades, um país que será amado por todos", destaca Baldé.
Na opinião da líder juvenil, o grande desafio do próximo Presidente da República, que será eleito amanhã, é de unir todos os guineenses para honrar os desígnios do pai fundador da nação, Amilcar Cabral.
Presidente da união
Inácio Góia Badinca, coordenador do Projeto Universidade Aberta e secretário para o departamento de Educação Global do Conselho Nacional de Juventude, espera que o povo faça um voto consciente que reflita a necessidade dos guineenses para os próximos anos. Daí não ter dúvidas de que vão eleger o melhor entre os dois candidatos.
"A votação vai abrir novos horizontes para uma unidade no seio dos guineenses. Entretanto, espero que o povo escolha, entre os dois candidatos finalistas, aquele que reúne melhores condições para assegurar a vida do país nos próximos tempos. Isso requer uma escolha responsável e idónea - apesar de termos constatado, durante o período da campanha eleitoral, alguns discursos divisionistas e de apelo a votos tribais e religiosos", considera.
"No meu ponto de vista, este comportamento não deve ter lugar no nosso país. No entanto, acredito que o povo guineense vai censurar o comportamento do género, porque uma das principais missões do Presidente da República é estabilização do país. Não é por acaso que a Constituição da República diz que o Presidente é o símbolo da unidade nacional e garante de estabilidade política e governativa", acrescenta Bandica.
Este domingo, as assembleias de voto devem abrir às 07:00 e fechar às 17:00 (horário de Bissau).
Segundo a Comissão Nacional de Eleições (CNE), tudo está pronto para o ato da votação ser "credível e transparente" e para que os resultados possam ser "justos". À DW África, o comando da Força Conjunta, que vai garantir segurança ao processo, diz que as condições estão reunidas a 100% para assegurar o pleito.