Eleições: O Congo prosperaria se abandonasse o dólar?
14 de dezembro de 2023Sentada numa pequena cadeira no popular mercado de Lumumba, situado no bairro de Bandalugwa, na capital congolesa, Kinshasa, a comerciante Rosette Kungi mistura feijões num grande balde verde, ao lado dos seus cartazes de preços em cartão que mudam todos os dias.
Nos últimos meses, a moeda local da República Democrática do Congo, o franco congolês (CDF), tem sido fortemente desvalorizada.
Há um ano, o CDF estava a ser transaccionado a cerca de 2.000 por dólar, estando agora a ser transaccionado a cerca de 2.700.
"Os preços em francos congoleses estão sempre a subir", lamenta Kungi. "Hoje, 10 dólares valem 27.000, ou mesmo 28.000 CDF - e em breve serão 30.000."
"Uma caixa de peixe custava 15 dólares, mas agora compro-a por 80 dólares", disse à DW.
Outra comerciante, Helene Timba, disse que precisa de pagar as flutuações de preços todos os dias. Enquanto afastava as moscas que pousavam na sua banca de peixe fresco, disse que a fixação do preço dos produtos se tornou uma negociação diária.
"Compramos um saco de feijão em dólares, mas vendemo-lo em francos congoleses e, se quisermos comprar mais, temos de comprar em dólares, o que está a dificultar a nossa vida", explica.
A desdolarização do Congo ajudaria a sua economia?
A economia do país foi informalmente "dolarizada" em 1994, quando a RDC era conhecida como Zaire e governada pelo autocrata Mobutu Sese Seko. A inflação atingiu um máximo histórico de 24.000%, levando ao colapso da economia.
O dólar americano continua a ser considerado a principal moeda comercial da RDC, embora os salários continuem a ser pagos na moeda nacional.
A maior parte dos bens do país são importados e a guerra na Ucrânia fez disparar o preço do trigo, do petróleo e de outros produtos de base.
Cerca de 62% da população do Congo - ou seja, 60 milhões de pessoas - vive com menos de 2,15 dólares por dia, de acordo com dados do Banco Mundial.
O Presidente congolês Félix Tshisekedi é candidato à reeleição nas eleições que se realizarão no final deste mês.
"Não votaremos se tivermos fome", disse Rosette Kungi.
"O presidente deve esforçar-se por abolir este dólar, para que a nossa moeda recupere o seu valor", disse outro comerciante.
O ministro das Finanças congolês, Nicolas Kazadi, disse aos jornalistas, no final de novembro, que a RDC é "demasiado extrovertida".
"Se produzíssemos em francos congoleses, se pensássemos em francos congoleses, não teríamos sofrido o impacto da taxa de câmbio", acrescentou Kazadi.
Para importar bens, os congoleses têm de obter dólares e, por isso, a lei da oferta e da procura justifica que o franco congolês perca o seu valor", disse o analista económico Al Kitenge.
"À medida que os produtos são importados, as pessoas precisam de moeda estrangeira para os importar", disse Al Kitenge, "mas quando vão ao mercado para obter moeda estrangeira, a procura é tão grande que o franco congolês perde valor porque as pessoas estão dispostas a pagar mais para obter essa moeda estrangeira e para os importar".
Para estabilizar a sua moeda, o Banco Central do Congo injectou 150 milhões de dólares nos bancos comerciais do país - uma medida que trouxe alívio às famílias congolesas apenas por um curto período de tempo.
"Uma solução temporária", salientou Kitenge.