Eleições presidenciais no Mali em clima de tensão
26 de julho de 2013Gao, a maior cidade do norte do Mali, foi libertada já há meio ano. No entanto, a presença do Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA) e do Movimento para a Unidade e a Jihad na África do Oeste (MUJAO) ainda se faz sentir.
A ocupação de um ano deixou marcas profundas na cidade. No edifício amarelo dos correios, os buracos deixados pelas balas ainda são perfeitamente visíveis. Em torno do quartel-general da polícia o cenário é ainda pior.
Mas isso deve mudar o mais rápido possível. Pelo menos é o que deseja Aïchata Keïta, presidente da associação dos comerciantes de peixe de Gao.
Um passo muito importante são as eleições presidenciais agendadas para o próximo domingo (28.07.): “As eleições vão correr bem, muito bem. Já tenho o meu cartão de eleitor, o cartão Nina. E as outras mulheres daqui também têm os seus cartões de eleitor.”
Mas nem todos os habitantes de Gao se mostram tão otimistas. Porque não está claro o que pode ainda acontecer até domingo na cidade de Kidal, que fica a 350 quilómetros a norte.
Ausência de autoridade
Há meses que este percurso é tudo menos popular, reclama o camionista Harouna Touré. O transportador viaja várias vezes por mês entre as duas cidades: “Lá são todos uns bandidos! Estão todos armados. Não há um chefe. Cada um é patrão de si mesmo.”
Harouna Touré já não tem medo dos chamados salteadores e bandidos que obrigam os motoristas a parar na estrada para lhes extorquir dinheiro. Teve de se habituar a isso. No entanto, a recente onda de violência abalou o camionista.
Dez dias antes das eleições, quatro pessoas foram mortas em confrontos entre o MNLA e moradores da cidade. Um pouco mais tarde, seis funcionários eleitorais foram raptados em Tessalit, junto à fronteira com a Argélia. Entretanto, foram já libertados.
Tudo isto é tema de conversa em Gao. Também para Safi Maiga, que acaba de sair de sua casa em Gao para ir ao mercado: “Também estamos preocupados com a situação em Kidal. Queremos que o exército maliano invada Kidal e volte a conquistar a cidade. Nós não podemos viver aqui se Kidal não for reconquistada. Não queremos isso."
Fé nas eleições
Maiga quer fundamentalmente uma coisa: "Queremos ter paz, em Kidal e em todo o norte do Mali. Queremos que haja paz em todo o país.”
Algo que deveria ter chegado com o acordo de paz preliminar de Ouagadougou. O acordo foi celebrado, em meados de junho, entre o Governo de transição, o MNLA e o Alto Conselho para a Unidade de Azawad (HCUA). O Conselho é o braço político do MNLA.
Com o entendimento, as estruturas de gestão e o exército deveriam regressar à região. O acordo deveria também abrir caminho para as eleições.
Mamadou Adama Diallo é o governador de Gao. Recebe as suas visitas numa sala grande, mas com poucos móveis. A questão crucial que agora se põe é: como irão decorrer as eleições e como será a situação em termos de segurança?
Ao contrário de muitos habitantes da cidade, o governador está otimista: “Sempre dissemos que o MNLA é apenas uma minoria. Uma minoria que se quer mostrar e que quer realizar ações para poder dizer que existe. Felizmente, até agora não vimos desenvolvimentos que possam prejudicar as eleições.”
Quem também espera que no próximo domingo se possa votar em Kidal é o camionista Harouna Touré, já que é aí que está registado.
A corrida eleitoral
E a campanha eleitoral termina nesta sexta-feira (26.07.). Participam na corrida 27 candidatos, entre eles os ex-primeiros ministro Ibrahim Boubacar Keita e Modibo Sidibé, e o ex-ministro de Economia Sumaila Cissé e Dramane Dembelé, candidato do partido maioritário.
Uma missão da União Europeia, formada por 90 observadores vai acompanhar o processo eleitoral, cuja data muitos consideraram precipitada devido à ausência da imprensa e de tempo para o seu planejamento.
Segundo o acordo de Ouagadougou, 60 dias depois da realização das eleições devem ser iniciadas conversações para definir o estatuto administrativo de Azawad e elaborar uma estratégia para o desenvolvimento desta região norte do país.