Em Angola desalojados continuam a viver em más condições
17 de outubro de 2013
Falta de serviços básicos de saúde, água, luz elétrica, esquadra policial, escola - esta é a realidade a que estão votadas as cerca de onze mil famílias que viviam junto do ramal dos Caminhos de Ferro de Moçamêdes na cidade do Lubango e que agora se encontram realojadas em Tchavola.
Forçadas a sairem das zonas em que viviam com a promessa de que estariam melhor em Tchavola, os populares dizem que agora estão completamente abandonados.
Para procurarem responder às expetativas foram constituídos alguns grupos e indigitados coordenadores com a missão de transmitir ao Governo as dificuldades que essas famílias desalojadas enfrentam. Mas, mesmo assim as suas reivindicações não são ouvidas pelos responsáveis administrativos.
João Pedro que é coordenador do bloco nove, constituído por 55 casas de construção precária, diz que a única escola na zona dista dois quilómetros e para as crianças é uma grande ginástica: "É preciso o segundo ciclo, aqui não existe. Há crianças de cinco, seis anos de idade".
Mas faltam também outros meios necessários para a sobrevivência dessas famílias, de acordo com João Pedro: "A água também é outro problema aqui no bloco nove. Não temos nenhum furo onde possamos apanhar água. Temos de nos deslocar quatro quilómetros para procurar este precioso líquido."
Longa lista de carências
A maior parte da população dedica-se ao comércio informal, com as pessoas a percorrerem cerca de seis quilómetros para chegarem ao mercado paralelo mais próximo.
Gabriel Afonso é um dos moradores da Tchavola e as suas expetativas eram outras antes de chegar nesse novo local de residência: "Por mim diria que de momento está a melhorar segundo as minhas possibilidades. Mas não é com esta situação que as pessoas contavam."
Na zona faltam entre muitos outros serviços um posto de saúde bem como uma esquadra policial. Por outro lado, as estradas estão danificadas, recorda Tomás Sapoco: "As vias de acesso estão todas degradadas, para além de não termos energia e água. Pelo facto temos aqui problemas sérios de malária."
Suspeita-se que maior parte dos casos de sarampo registados no município do Lubango é proveniente da zona de Tchavola, de acordo com a chefe do Departamento de saúde pública e endemias na província da Huíla, Telma Diogo: "Temos um total de 631 casos suspeitos e notificados. Já registamos oito óbitos com 34 amostras enviadas a nível central e os resultados foram positivos. O surto foi confirmado em cinco municípios no Lubango, Matala, Kalukembe, Gambos e Cacula."
Desalojamentos contestados
Lembramos que em Angola esta série de desalojamentos que tem lugar um pouco por todo o lado, há um certo tempo, é alvo de contestação e protestos tanto dos moradores que perdem as suas casas como de uma grande parte da sociedade civil que tem exigido ao governo para pôr cobro à esta situação. É que entre a retirada forçada das populações dos seus lares e o seu realojamento não são respeitados por exemplo os direitos humanos, consideram as ONGs.
O Governo angolano é frequentemente criticado e as manifestações de rua são convocadas regularmente para apelar as autoridades sobre o cumprimento das condições mínimas de sobrevivência para as populações desalojadas.
No passado dia 3 de outubro as autoridades de Luanda impediram uma manifestação organizada pela SOS Habitat, uma ONG angolana que defende as boas políticas habitacionais. A iniciativa visava aproveitar o Dia Mundial da Habitação, instiuído pelas Nações Unidas, para exigir ao Governo mais atenção pelos problemas dos desalojados.