ONGs cobram ação do Governo no combate à fome
17 de outubro de 2014As organizações de direitos humanos estão desapontadas com as autoridades angolanas. No sul de Angola, mais de 800 mil famílias, afetadas pela seca, continuam à espera de assistência alimentar.
O Governo angolano diz que está a fazer tudo para conter a situação. Mas as organizações alertam que, neste momento, a maior parte das famílias está entregue à sua própria sorte.
As províncias da Huíla, Namibe e Kuando-Kubango são as que mais preocupam as organizações de direitos humanos e a Cáritas, afeta à Igreja Católica.
O Bispo da Diocese do Namibe, Dom Dionisio Hisilenapo, diz que é preciso que o Estado se envolva mais neste assunto. O bispo católico sublinha que falar da situação não é uma crítica, é apenas constatar a realidade.
Segundo o líder religioso “a situação social do Namibe está marcada pela fome, pela seca, pela sede, as vezes as pessoas que dizem que a situção está bem controlada, o que não é verdade."
"Há sempre pessoas propensas a lides, a confusão quando se diz uma coisa pensa-se que é uma crítica, mas é sobretudo uma chamada de atenção. A nossa gente anda doente mas fazemos o nosso trabalho nesse sentido, enquanto angolanos e angolanas, enquanto cristãos e responsáveis da igreja”.
Ajuda é insuficiente
O bispo da Diocese de Ondjiva, Dom Pio Hipunyaty, diz que a ajuda que chega é pouca. Há pessoas que não têm nada para comer: “Vivemos uma situação verdadeiramente grave não temos alimentos para as pessoas bem como para os animais."
Dom Pio Hipunyaty avança ainda que "mais de meio milhão de pessoas está afetada por esta calamidade em toda a circunscrição do território. As ajudas estão a chegar, mas ainda continuam ínfimas, há pessoas que não têm mesmo nada.”
As autoridades administrativas dos municípios da província da Huíla dizem que estão de mãos atadas para socorrer as famílias afetadas pela seca que aumentam cada dia que passa.
Luis Ndala, administrador do Kuvango, no leste da província da Huíla, conta que não tem recursos para apoiar as famílias naquela zona: “Clamamos também por apoios para socorrermos aquelas pessoas cujo número ronda entre 100 e 150 indivíduos".
Kandida Ukali, administradora do Quipundo, também na província da Huíla, diz que no município a fome é um facto: “Neste momento a pessoas estão com fome, e haverá mais fome em todas as comunas, principalmente na Comuna do Chikongo”
Onde está o Estado?
As organizações não-governamentais de defesa dos direitos humanos dizem que o Estado perdeu a noção da sua responsabilidade.
Depois de tantos apelos feitos, o padre Jacinto Pio Wacussanga, Presidente da Associação Construindo Comunidades, ACC, fica assombrado ao ver a forma como o povo está a ser tratado, sobretudo porque o país dispõe de vastos recursos: “Eu não sei quem conselha os governantes a procederem desta maneira, mas trata-se de um ato de completa desumanidade, não tem explicação. É um absurdo para uma República chamada de democrática e de direito”.
Sesaltina Kuvanda, da organização Open Society, diz que é preciso debater estas questões com urgência: "Uma das grandes dificuldades que temos aqui é a falta de espaços públicos para se poder debater aspetos de interesse das comunidades, porque penso que a situação não está boa, aliás ela é grave”
Contactados pela DW África, os responsáveis do Ministério da Assistência e Reinserção Social, MINARS, recusaram-se a falar sobre este assunto.