Em Moçambique os comboios têm de correr contra o relógio
16 de setembro de 2013Se não são as chuvas, são os reassentados de Cateme em Tete, ou então os homens da RENAMO, o maior partido da oposição, a impedirem o escoamento de carvão mineral da Vale e Rio Tinto na província central de Tete.
Mas há ainda outro entrave: a precariedade da Linha férrea de Sena, a única usada para o escoamento do carvão. Ela não é a ideal para este tipo de mercadoria, o que origina o descarrilamento dos comboios, deitando a baixo milhões de toneladas de carvão.
Apesar dos prejuízos a exploração continua. A empresa brasileira Vale não se queixa e disse mesmo - por email - à DW que a Linha de Sena continua a servir-lhe muito bem.
O consultor económico Eugénio Chimbutane também considera que a situação não é motivo suficiente para que as companhias abandonem a atividade e argumenta: "Segundo informações dos média, o Governo está muito empenhado em resolver a questão das infraestruturas."
E há ainda outro fator que "prende" as empresas carboníferas, de acordo com Chimbutane: "Há a questão de grandes investimentos que essas empresas já fizeram lá no terreno e o custo de abandonarem essses projetos podem ser elevados para a própria sustentabilidade e rentabilidade das empresas. E isso pode afetar as suas cotações na bolsa de valores."
Grandes desafios, mas falta capacidade
120 milhões de toneladas de carvão é quanto Moçambique prevê exportar anualmente até 2050. Um artigo do Africaintelligence cita, por exemplo, os custos para o alargamento de algumas ferrovias. No Norte, para ligar Lichinga ao porto de Pemba, serão necessários 3.000 milhões de dólares e a Linha Moatize-Macuse, em Tete, custará 1.300 milhões.
Só estes valores estão muito acima das capacidades dos Caminhos de Ferro de Moçambique, uma empresa pública dependente do financimento estatal. Ela tem de arranjar milhões de dólares para edificar novas ferrovias com qualidade e adequadas ao tipo de mercadorias que o país está a escoar.
A solução para esta situação é só uma, segundo Eugénio Chimbutane: "Então, é ai onde é muito importante fazer-se parcerias público-privadas, em que se envolve empresas muito grandes ligadas à logística, portos e caminhos de ferro, para se juntarem à empresa Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) para o desenvolvimento desses projetos."
O consultor económico ressalta a fraqueza da empresa pública moçambicana: "Os Caminhos de Ferro só podem ser tomados como parceiros porque a empresa é pioneira nestas questões, mas em termos de capacidade financeira para mudar este cenário, não estou a ver a empresa com esta capacidade."
Governo procura parcerias sim
No país já foram abertos concursos para esta parceria público-privada. Por exemplo, contactos já foram mantidos com a empresa chinesa CRBC para a construção da Linha Mutarara, no centro, e Mutuali, no norte.
Mas enquanto isso para os potenciais investidores este cenário é inibidor. Mesmo para os que já estão no terreno a fazer apenas estudos de viabilidade, como relata o consultor económico Eugénio Chimbutane: "Há empresas multinacionais que têm concessões em Tete, a província que tem carvão, que têm licenças de prospeção e pesquisa, mas estão a fazer um trabalho de prospeção a um ritmo muito lento, porque querem tentar acertar o passo com essas oportunidades de escoamento."
De lembrar que uma das maiores parcerias com privados não funcionou bem, e foi exatamente na Linha de Sena. A reabilitação desta linha estava a cargo do consóricio indiano Ircon e Rites que falhou, quer em termos de qualidade, quer em termos de prazo, causando enorme descontentamento nas empresas exploradoras de carvão. Face a isso o Governo afastou o consórcio da empreitada.