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Especialistas céticos quanto à possível descoberta de uma vacina contra a malária

25 de outubro de 2011

Anunciada como uma esperança para a redução do risco de infeção da malária, a substância “RTS.S” levanta dúvidas a investigadores. Especialistas garantem que há ainda um longo caminho a percorrer para descobrir vacina.

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A malária ou paludismo é uma doença infeciosa causada por parasitas transmitidos pela picada do mosquito do género AnophelesFoto: picture-alliance /dpa

Há uma semana (18.09), a empresa britânica GlaxoSmithKline publicou resultados animadores de um estudo clínico sobre uma possível vacina contra a malária. Testes clínicos realizados, entre outros países, em Moçambique, parecem indicar que a nova substância, chamada "RTS.S", pode reduzir o risco de infeção da malária em até 50%

O diretor executivo da farmacêutica, Andrew Witty, havia anunciado que esses resultados "aproximam da obtenção da primeira vacina da malária, que tem o potencial de melhorar o horizonte de vida das crianças nas regiões endémicas da malária, em África”. A notícia repercutiu-se em vários meios de comunicação social.

Entusiasmo abranda

Warten auf Malaria Test in Maputo
Um menino aguarda pela sua vez para fazer o teste da malária, em Maputo, capital de MoçambiqueFoto: AP

Mas, apesar do ânimo gerado pelos resultados do estudo, especialistas no assunto questionam a sua eficácia. Hermann Bujard, professor do Centro de Biologia Molecular da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, acredita que haveria problemas na eventualidade de uma campanha de vacinação. Isto porque “as pessoas numa vila no Brasil ou na África iriam concluir que, apesar da vacina, metade das crianças ainda fica doente. E ao longo do tempo seria difícil convencer as mães a trazerem seus filhos para serem vacinados”, sustenta Bujard.

O professor explica que “essa vacina não evita que as crianças que estejam imunizadas tenham parasitas no sangue”, pelo que se “essas crianças estão infetadas e se forem picadas pelo mosquito, ele irá transmitir o parasita.”

Parasita da malária é demasiado “esperto”

Kampf gegen Malaria in Afrika
A rede mosquiteira é utilizada em muitos países africanos como forma de evitar a picada do mosquito propagador do vírus da maláriaFoto: Ralph Ahrens


A terceira fase de testes clínicos da possível vacina está em processo no Burkina Faso, Gabão, Gana, Quênia, Malawi, Moçambique e Tanzânia, com a participação de 16 mil crianças com entre as seis semanas e os dezassete meses. A atual fase avalia, principalmente, os efeitos colaterais da eventual futura vacina, destinada prioritariamente aos bebés e às crianças com menos de cinco anos, os mais vulneráveis à malária.

Os resultados apresentados pelo estudo clínico acerca da substância “RTS.S” (que poderá reduzir o risco de infeção da malária para metade) levantam ainda muitas dúvidas a Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantan e professor de Imunologia Clínica na Universidade de São Paulo, no Brasil. Kalil questiona-se: “Porque é só 50%? Por que não é mais? (…) Porque ainda não temos os resultados bem claros para cada faixa etária? E como é a questão da memória?”. Ainda não há respostas concretas a estas perguntas.

O diretor do Instituto Butantan garante que o virús da malária é “difícil” de combater. “Contra a malária, quantas pessoas já se ouviu falar que tiveram 30 episódios?” interroga-se Jorge Kalil, respondendo logo em seguida: “Muitas, porque nem sempre a malária deixa a pessoa depois protegida por toda a vida. As pessoas que têm Hepatite B, têm uma vez só. Então é fácil imunizar contra Hepatite B”. Pelo contrário “o parasita da malária é muito «esperto» e encontra sempre uma forma de «enganar» o nosso sistema imunitário. Estamos a tentar uma maneira de o «apanhar» de qualquer forma”, esclarece. Por isso, encontrar a solução de uma possível vacina contra a malária “é muito difícil”, avalia Kalil.

Caminho é ainda longo, mas há esperança

Deutschland Malaria Bernhard-Nocht-Institut Labor
A descoberta de uma vacina contra a malária é um caminho longo a percorrer, segundo especialistasFoto: DW

Apesar de refrearem expectativas sobre os resultados do estudo da empresa GlaxoSmithKline, os especialistas consideram que foi dado um passo importante. O professor Jorge Kalil refere que o estudo que poderia conduzir a uma nova vacina “é interessante” e que “traz esperanças”, pois “ter uma vacina contra uma doença parasitária é uma grande glória, há anos que procuramos. E talvez este seja o melhor resultado que obtivemos até hoje”.

Partilhando a mesma opinião, Hermann Bujard, professor do Centro de Biologia Molecular da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, acrescenta que “é preciso ver o estudo como um avanço, mas estamos ainda distantes do nosso objetivo ideal”.

O professor Jorge Kalil, da Universidade de São Paulo, fala num caminho longo a percorrer para encontrar a vacina contra a malária. E acrescenta que "estão a ser feitas muitas ações - as vacinas, o controle do vetor - para que se diminua essa grande epidemia. A malária continua a matar muitas pessoas.” No entanto, lamenta temendo que a erradicação da malária “não é coisa que vá ver”.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, houve na última década uma diminuição de mortes por malária. Mesmo assim, em 2009 morreram 781 mil pessoas e houve 225 milhões de casos da doença no mundo.

Karte Malaria Risikogebiete
Mapa de áreas de diferentes níveis de risco da malária no mundo, 2005

Autora: Cris Vieira (Berlim)
Edição: Glória Sousa / António Rocha