1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Especialistas vêem com prudência cessar-fogo alcançado no Sudão do Sul

Sandrine Blanchard / Ramata Soré / António Rocha24 de janeiro de 2014

As conversações entre as duas partes em conflito no Sudão do Sul resultaram finalmente num acordo de cessar-fogo, em Addis-Abeba. Especialistas encaram este "primeiro passo crucial" com prudência e algum ceticismo.

https://p.dw.com/p/1Awtb
Foto: picture-alliance/dpa

Os representantes do Presidente Salva Kiir e do seu rival e ex-vice-Presidente Riek Machar parecem ter encontrado a fórmula para acabar com cinco semanas de violentos combates no país. Foram precisas muitas semanas de agitadas negociações na capital etíope e a mediação da organização regional - IGAD, para que este acordo de sete páginas fosse conseguido. Um acordo considerado de forma unânime o "primeiro passo crucial", mesmo que os observadores e os signatários do documento permaneçam prudentes.

Segundo vários analistas, o cessar-fogo assinado pelos beligerantes no Sudão do Sul não garante que a crise chegou ao fim, principalmente quando se sabe que a aplicação do acordo no terreno será difícil, bem como a reconciliação entre as comunidades que há bem pouco tempo se confrontavam de forma violenta.

Retirada das zonas de conflito e ajuda humanitária à população

Certo é que as duas partes se comprometem a renunciar a qualquer tipo de ação militar ou confronto suscetível de pôr em causa o processo de paz iniciado. Também decidiram que os combatentes dos dois lados terão que respeitar o acordo, ao qual se deverá seguir uma retirada progressiva dos seus homens armados das zonas de conflito. Por outro lado, ficou acordado que os dois campos irão proteger os civis e garantir o acesso da ajuda humanitária à população.

Para controlar o respeito do cessar-fogo, é criado um Mecanismo de Vigilância e de Verificação que será dirigido pela IGAD, a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento, o bloco regional mediador da África Oriental na crise do Sudão do Sul.

Seyoum Mesfin, o mediador da IGAD, lembrou aos microfones da DW África que, muitas vezes, fazer as pazes é mais complicado que fazer a guerra e que "o processo de paz será complicado, imprevisível e delicado". "O Sudão do Sul viveu uma luta longa e amarga para conseguir a sua independência. Milhões de pessoas sacrificaram a sua própria vida para atingir este objetivo. É também justo que o diálogo nacional seja agora realmente inclusivo, que não deixe ninguém de fora. A IGAD e a União Africana trabalham juntamente com a comunidade internacional para ajudar os sul-sudaneses. Não vamos abandonar-vos enquanto a situação não se estabilizar", garante.

Gespräche über Waffenruhe in Südsudan Verhandlungen in Addis Abeba Nhil Deng Nhil
Nhial Deng Nhial, representante da delegação governamental de Juba.Foto: Getachew Tedla

"Aplicação não será fácil"

No entanto, muitos especialistas advertem que o conflito - desencadeado por um confronto em meados de dezembro entre grupos políticos rivais do exército sul-sudanês - poderá rápidamente escapar ao controlo dos dirigentes políticos. Daí que, logo após a assinatura do acordo, o representante da delegação governamental de Juba, Nhial Deng Nhial tenha mostrado o seu ceticismo. "Não tenhamos ilusões", afirmou, frisando que "a aplicação deste acordo não será fácil".

Ainda assim, Nhial considera que "o exército dos SPLA é capaz de assegurar o respeito do acordo pelos seus homens". "Prometemos uma total cooperação com o mecanismo de controle e verificação. Na verdade, o que nos preocupa é a capacidade real dos grupos rebeldes, constituídos por civis armados que não estão habituados à disciplina militar, para acabarem com os combates quando as ordens são dadas", revela.

[No title]

Uma solução parcial

O governo de Juba apelou à IGAD e à comunidade internacional para que controlem o respeito do acordo por parte do campo adversário, que esteve representado em Addis-Abeba por Mabior Garang de Mabior, porta-voz de Riek Machar. Também aos microfones da DW África, Mabior fala sobre os compromissos aceites pelos rebeldes: "Inicialmente, queríamos que o Presidente aceitasse libertar imediatamente os nossos camaradas presos, mas não conseguimos impor esta exigencia. Em qualquer negociação, nunca se consegue 100% das exigencias. Mas podemos viver com este acordo".

Observadores afirmam que, apesar deste acordo, as querelas entre o Presidente Salva Kiir e o seu ex-vice-Presidente Riek Machar sem dúvida não serão solucionadas por um documento e nem as tensões étnicas entre os Nuers e os Dinkas, que esta rivalidade política e pessoal reavivou. Um novo incidente ilustra bem a dificuldade de as duas partes aceitarem a paz. Na manhã desta sexta-feira (24.01), notícias deram conta que o exército teria atacado uma das posições dos rebeldes no Estado de Unidade e que outra ofensiva estaria em curso no Estado de Jonglei. O exército desmentiu essas informações, afirmando que os combates ocorreram antes da assinatura do acordo.

Bildergalerie Südsudan Der jüngste Staat der Welt versinkt im Chaos
Um dos acampamentos sobrelotados de refugiados no Sudão do Sul.Foto: DW/J.-P.Scholz/A.Kriesch