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"Está na hora da Alemanha reconhecer o genocídio na Namíbia"

Arndt Peltner / Bettina Riffel2 de julho de 2015

Em abril, a Alemanha reconheceu o genocídio na Arménia. No entanto, o Governo de Berlim ainda não assumiu as mortes causadas pelas tropas da Alemanha em 1904, quando a Namíbia ainda era uma colónia alemã.

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Foto: ullstein bild

Cem anos após o massacre de mais de um milhão de arménios, descendentes finalmente conseguiram que o Parlamento alemão reconhecesse o genocídio na Arménia. Por isso, muitos defendem que esta é uma ótima oportunidade para abordar o genocídio na Namíbia.

Em 1904, tropas alemãs assassinaram em massa africanos das etnias herero, nama, damara e san. Até hoje, ainda não se falou oficialmente sobre o tema. Pelo menos não na Alemanha. "Está na hora da Alemanha reconhecer o genocídio na Namíbia", exige Israel Kaunatjike, africano da etnia Herero residente em Berlim.

Herero Israel Kaunatjike
Israel Kaunatjike, herero residente em BerlimFoto: picture-alliance/dpa

Na sua opinião, já é tempo de o Governo, que hoje está nas mãos da chanceler Angela Merkel, assumir as mortes causadas pelas tropas alemãs em 1904. "Mas nós não somos levados a sério. E isso é discriminação e falta de respeito para com as vitimas", lamenta Kaunatjike.

E ele não é o único a defender essa opinião. As Nações Unidas reconheceram o genocídio na Namíbia em 1984, mas a Alemanha prefere não abordar o tema.

Segundo historiadores e a ONU, o estopim para as mortes em massa na época foi uma revolta da etnia herero. As tropas alemãs assassinaram 70 mil pessoas da etnia herero, o que correspondia a 80% do grupo. Além deles, também morreram metade dos membros da etnia nama.

Debates no Parlamento alemão

Em 2004, Heidemarie Wieczrek Zeul, na altura ministra do Desenvolvimento da Alemanha, deu o primeiro passo em direção a um pedido de perdão quando, durante uma missa no país africano, pediu perdão na oração do Pai Nosso. Mas um pedido oficial de desculpas da parte da Alemanha nunca houve.

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No Parlamento alemão até houve algumas iniciativas para abordar o tema, mas todos os governos sempre conseguiram reprimir o assunto, explica a ex-ministra alemã numa entrevista à DW em 2012.

Naquele ano, o Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) e o Partido Verde solicitaram o reconhecimento do genocídio, mas o Governo na altura respondeu dizendo que a convenção da ONU de 9 de dezembro de 1948 que torna o genocídio passível de punição não poderia ser atribuído ao caso porque o facto já era passado.

"Não se pode repassar sempre a responsabilidade adiante, é preciso reconhecer a culpa", reconheceu a antiga ministra.

Reconhecimento oficial

Mas Israel Kaunatjike não se cansa de repetir que não houve reconhecimento oficial do genocídio, muito menos um pedido de perdão oficial. E agora que o Parlamento alemão aceitou os assassinatos em massa na Arménia, defende que esta seria uma ótima oportunidade para falar também do que aconteceu na Namíbia.

"Para nós é muito importante resolver o assunto, afinal ainda há refugiados daquela época na África do Sul, em Angola e no Botsuana", afirma Kaunatjike. E para trazer essas pessoas de volta para casa, acrescenta, é necessária ajuda financeira e a reparação do erro. "Tal como aconteceu com outros países, como Israel, Polónia ou Letónia, o mesmo tem que valer para nós".

Deutschland Namibia Geschichte Charité gibt Gebeine zurück
Restos mortais de vítimas herero chegaram à Namíbia em 2014, vindos das coleções do Hospital Charité, em Berlim, e da Universidade de FriburgoFoto: picture-alliance/dpa