"Está na hora da Alemanha reconhecer o genocídio na Namíbia"
2 de julho de 2015Cem anos após o massacre de mais de um milhão de arménios, descendentes finalmente conseguiram que o Parlamento alemão reconhecesse o genocídio na Arménia. Por isso, muitos defendem que esta é uma ótima oportunidade para abordar o genocídio na Namíbia.
Em 1904, tropas alemãs assassinaram em massa africanos das etnias herero, nama, damara e san. Até hoje, ainda não se falou oficialmente sobre o tema. Pelo menos não na Alemanha. "Está na hora da Alemanha reconhecer o genocídio na Namíbia", exige Israel Kaunatjike, africano da etnia Herero residente em Berlim.
Na sua opinião, já é tempo de o Governo, que hoje está nas mãos da chanceler Angela Merkel, assumir as mortes causadas pelas tropas alemãs em 1904. "Mas nós não somos levados a sério. E isso é discriminação e falta de respeito para com as vitimas", lamenta Kaunatjike.
E ele não é o único a defender essa opinião. As Nações Unidas reconheceram o genocídio na Namíbia em 1984, mas a Alemanha prefere não abordar o tema.
Segundo historiadores e a ONU, o estopim para as mortes em massa na época foi uma revolta da etnia herero. As tropas alemãs assassinaram 70 mil pessoas da etnia herero, o que correspondia a 80% do grupo. Além deles, também morreram metade dos membros da etnia nama.
Debates no Parlamento alemão
Em 2004, Heidemarie Wieczrek Zeul, na altura ministra do Desenvolvimento da Alemanha, deu o primeiro passo em direção a um pedido de perdão quando, durante uma missa no país africano, pediu perdão na oração do Pai Nosso. Mas um pedido oficial de desculpas da parte da Alemanha nunca houve.
No Parlamento alemão até houve algumas iniciativas para abordar o tema, mas todos os governos sempre conseguiram reprimir o assunto, explica a ex-ministra alemã numa entrevista à DW em 2012.
Naquele ano, o Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) e o Partido Verde solicitaram o reconhecimento do genocídio, mas o Governo na altura respondeu dizendo que a convenção da ONU de 9 de dezembro de 1948 que torna o genocídio passível de punição não poderia ser atribuído ao caso porque o facto já era passado.
"Não se pode repassar sempre a responsabilidade adiante, é preciso reconhecer a culpa", reconheceu a antiga ministra.
Reconhecimento oficial
Mas Israel Kaunatjike não se cansa de repetir que não houve reconhecimento oficial do genocídio, muito menos um pedido de perdão oficial. E agora que o Parlamento alemão aceitou os assassinatos em massa na Arménia, defende que esta seria uma ótima oportunidade para falar também do que aconteceu na Namíbia.
"Para nós é muito importante resolver o assunto, afinal ainda há refugiados daquela época na África do Sul, em Angola e no Botsuana", afirma Kaunatjike. E para trazer essas pessoas de volta para casa, acrescenta, é necessária ajuda financeira e a reparação do erro. "Tal como aconteceu com outros países, como Israel, Polónia ou Letónia, o mesmo tem que valer para nós".