Angola: Presidente diz que autárquicas nunca foram adiadas
15 de outubro de 2020Uma das expetativas da sociedade sobre o "Estado da Nação" era uma data para a realização das primeiras eleições autárquicas em Angola, mas o Presidente João Lourenço não se comprometeu. "Não me parece justo e correto dizer-se que as eleições foram adiadas porque não se adiam eleições que nunca foram convocadas", disse João Lourenço.
"Estamos todos interessados na realização destas eleições que vão acontecer pela primeira vez em Angola", acrescentou, sem avançar datas.
No âmbito da sua "cruzada contra a corrupção", João Lourenço reconhece que os danos causados ao Estado podem ser bem maiores. "O Estado terá sido lesado em pelo menos 24 mil milhões de dólares norte-americanos", reiterou. "À medida que se vão aprofundando as investigações (...), vão-se descobrindo coisas novas sendo, portanto, muito provável que mais tarde se venha a anunciar números bem maiores do que estes que, por si só, já ultrapassam o valor da dívida de Angola para com o seu principal credor", acrescentou.
Alguns bens recuperados
Quanto à recuperação de ativos, o chefe de Estado anunciou que já foram recuperados mais de quatro mil milhões de dólares. "Fábricas, terminais portuários, edifícios de escritórios, edifícios de habitação, estação de rádios e televisão, gráficas, estabelecimentos comerciais e outros", enumerou.
Para João Lourenço, a pandemia da Covid-19 que assola o mundo adiou o crescimento económico do país previsto para este ano. "Todas as previsões anteriores à crise apontavam que em 2020, Angola iria crescer em torno de 1,8%, e, em consequência da crise pandémica espera-se, agora, que o país venha a evidenciar uma taxa negativa de crescimento na ordem dos 3,6%", admitiu.
No discurso sobre o "Estado da Nação", João Lourenço anunciou que em seis meses foram criados 19 mil postos de trabalho. O Presidente falou ainda sobre a reforma da Justiça, assim como de direitos humanos, finanças públicas, privatizações, emprego, agricultura e produção de energia.
Cartão vermelho da UNITA
O maior partido da oposição, a UNITA, não só criticou o discurso como também mostrou cartão vermelho ao chefe de Estado. "Dizer que Assembleia Nacional não terminou o pacote legislativo é uma desculpa de mau pagador. Ouvimos aqui projetos. O cidadão quer água, o cidadão quer comer, o cidadão quer ver os preços baixos. O cidadão não quer continuar o seu rendimento taxado com IVA com IRT", critica Navita Ngolo, deputada da UNITA.
"O senhor Presidente tem que aligeirar a vida do cidadão. Nós estamos aqui a mostrar o cartão vermelho para dizer basta à subalternização dos órgãos de soberania", frisou.
João Pinto, deputado do MPLA, partido no poder, minimiza a postura da oposição. "É um discurso com muito sumo, com muita mensagem, realista. Procura mostrar ações que foram feitas: a empregabilidade na saúde, a empregabilidade na educação, a construção de infraestruturas bem como a imagem de Angola que melhora todos os dias quer na imprensa internacional, quer nas organizações que controlam a transparência e a liberdade de imprensa", comenta.
Durante o discurso do Presidente da República, não houve direito a uma única palavra sobre Edeltrudes Costa, o seu diretor de gabinete envolvido num suposto escândalo de corrupção denunciado pela emissora portuguesa TVI.
Jeremias Benedito "Dito Dalí", um dos mentores da recente manifestação realizada em Luanda contra o "braço direito" de João Lourenço, diz que o Presidente está a defender um amigo. "Entendemos que o Presidente está a protegê-lo. Nem sequer falou da reportagem veiculada pela TVI, porque é o seu braço direito, é o seu amigo de gabinete, é seu amigo fora de trabalho", advertiu.
Um grupo de ativistas anunciou já para o próximo dia 7 de novembro a realização de mais uma manifestação de rua para exigir a exoneração do governante.