Estatueta de herói angolano ganha holofotes em Berlim
18 de junho de 2022Em palco na sexta-feira (17.06) e no sábado (18.06), com um misto de música, dança e poesia, artistas dos Camarões, Angola, Portugal e Berlim reacenderam o debate sobre a restituição das obras de arte trazidas para os museus alemães durante o período colonial às sociedades de origem.
Jens Vilela Neumann, diretor artístico do projeto "Restitution Art Lab" (ou "Laboratório de Restituição Artística", na tradução literal para o português) explica o que pretente com o debate: "Este debate é o exemplo perfeito no qual podemos olhar para o nosso passado e nos perguntarmos como é o nosso comportamento neste momento. Somos mesmo tão democráticos? Tudo é feito em igualdade ou ainda há alguém que define como deve ser feito e outros que vão atrás?"
"Desta forma, podemos olhar para o futuro," conclui.
Chibinda Ilunga
O Museu Etnológico de Berlim alberga grandes coleções de arte e muitas obras angolanas antigas. A performance em Berlim gira em torno de duas estatuetas de origem africana, uma delas a do herói angolano Chibinda Ilunga, considerado o fundador dos reinos Lunda e Chokwe.
"Chibinda Ilunga é um caso difícil na medida em que não foi roubado durante uma ação militar, mas foi comprado," explica Vilela Neumann.
"Penso que, apesar disso, é bom perguntar às pessoas de onde as obras vêm e se as querem de volta, porque o colonialismo sempre foi um contexto injusto," considera.
A curadora de arte contemporânea africana, a angolana Tila Likunzi trouxe para a performance os conhecimentos adquiridos ao longo de meses de pesquisas sobre a questão da restituição.
Explica que a estatueta de Chibinda Ilunga não é apenas um bem cultural, mas também uma fonte de informação sobre as práticas culturais da época.
"Como as faziam há cem anos, reflete o pensamento de há cem anos atrás. Então, nós precisamos ter acesso e interação com esses objetos culturais para obtermos informação sobre o tipo de madeira que utilizavam, como esculpiam," relata.
Compreender para restituir
A ideia do projeto é levar o debate às pessoas que ainda não lidaram com o tema. Tila Likunzi quer que o público compreenda porque a restituição é importante para a sociedade angolana.
"Importa tomar consciência sobre o valor cultural, espiritual e social destes objetos africanos cá na Europa para nós, os africanos," afirma.
"Não é tanto uma questão de dar a conhecer a nossa cultura, mas uma melhor compreensão de porque somos tão afetos a esses objetos e porque os queremos de volta," pondera a curadora de arte.
A cantora e compositora Aline Frazão e a dançarina e poetisa Ana Lucão, cujos pais são angolanos, também representam Angola no projeto que, segundo o diretor artístico, Jens Vilela Neumann, não ficará por aqui: "Será produzido um filme documentário e estamos em diálogo com diversas instituições. O próximo passo será uma viagem à Tanzânia onde queremos ver quais os objetos que temos da região do Kilimanjaro," conclui.