Estação de Berlim: Primeira paragem de refugiados ucranianos
14 de março de 2022Desde a invasão russa da Ucrânia a 24 de fevereiro, deixaram o país mais de dois milhões de pessoas. Muitos permanecem em países vizinhos como a Polónia, Roménia ou Eslováquia.
Ainda assim, cada vez mais pessoas estão também a deslocar-se para oeste, para países como a Alemanha. Por vezes chegam diariamente até 15 mil refugiados à principal estação ferroviária de Berlim, com autoridades e voluntários a oferecer ajuda.
Por volta das 13 horas, a tenda branca montada em frente à estação central de Berlim está cheia de gente.
Centenas de pessoas estão sentadas em longos bancos de madeira, as crianças estão a brincar num canto. Algumas têm malas, outras pouco mais do que um saco e as roupas que estão a usar.
"Uma grande tragédia"
Zhanna N., uma mulher de quarenta e poucos anos que prefere não divulgar o seu nome completo por motivos de segurança, deixou a Ucrânia há três dias e tenta agora adaptar-se ao que está a acontecer na sua terra natal.
"É uma grande tragédia para o nosso país. Esperávamos que não acontecesse", diz. Na sua perspectiva, o início da guerra foi um choque para muitos ucranianos porque os civis serão as principais vítimas.
"Neste momento, após este primeiro choque, apercebemo-nos que 'sim, estamos a ter uma guerra e não sabemos quanto tempo ela irá durar'", explica.
As olheiras à volta dos olhos de Zhanna falam da provação terrível pela qual passou. Ela e a filha fugiram da capital Kiev para Lviv, no oeste. Depois seguiram para a Polónia antes de finalmente chegarem a Berlim.
A mãe, o ex-marido, os irmãos e outros familiares ainda estão na Ucrânia, mas tem esperança sobrevivam à guerra. E deseja reunir-se com outros familiares que também estão em fuga.
"Tenho uma irmã, ela também saiu de lá, mas ainda não nos encontrámos. Tenho amigos e familiares que também deixaram a Ucrânia, mas não nos encontrámos ainda. Estamos noutra cidade, noutro país, neste momento. Vamos tentar estar juntos e procurar-nos uns aos outros", conta.
Estação de Berlim
Cerca de 15 mil ucranianos chegam à principal estação ferroviária de Berlim todos os dias. Para todos os que chegam da Polónia, Berlim é o primeiro ponto de paragem na Alemanha. É aqui que maior parte dos comboios e autocarros chega da fronteira primeiro. Um desafio enorme para capital.
Perante a catástrofe humanitária, é grande a vontade de muitos cidadãos na Alemanha de ajudar. "O coração está lá, a vontade de ajudar está lá, a solidariedade está lá", foi assim que o chanceler Olaf Scholz comentou as numerosas ações espontâneas e a generosidade de muitas pessoas.
Isto também é evidente aqui no centro de chegada provisoriamente instalado na Estação Central de Berlim. Os voluntários com coletes amarelos e laranja estão por toda a estação, oferecem informação, comida e roupa nova.
Franziska Giffey, a autarca de Berlim, diz que os refugiados já estão a ser alojados em pavilhões. "Estamos a atingir os limites da capacidade", diz a política do SPD. Berlim pediu à Bundeswehr, o exército alemão, assistência administrativa.
Erika, uma jovem de vinte e poucos anos de ascendência russa, chegou a Berlim há um ano. Agora passa entre quatro a cinco horas todos os dias na estação, a tentar ajudar os refugiados.
"Muitos deles estão extremamente cansados quando aqui chegam. Penso que muitas pessoas estão muito perturbadas, quando chegam a Berlim só querem ouvir alguém que lhes diga o que fazer e para onde ir. Mesmo não tendo toda a informação tentamos dar-lhes algo a que se possam agarrar", explica Erika.
Voluntários como ela foram os únicos que prestaram apoio aos refugiados na estação nos primeiros dias. Agora, a Missão da Cidade de Berlim, uma grande instituição de caridade cristã, montou uma tenda.
A porta-voz Barbara Breuer orgulha-se dos berlinenses. No entanto, diz que muitos voluntários na estação estão totalmente exaustos. "Estamos a ver uma grande solidariedade aqui na estação de comboios de Berlim. As pessoas tiram férias dos seus empregos e fazem o que podem para ajudar. Mas precisam de prestar atenção a si próprias" diz Breuer.
"Algumas pessoas estão aqui há 18 ou 20 horas todos os dias desde que a crise começou e começam a chorar quando se fala com elas", exemplifica.
Retorno à Ucrânia improvável
De volta à tenda, Ruslan Stepanenko, vindo de Dnipro, a quarta maior cidade da Ucrânia, diz que não faz ideia do que o futuro lhe reserva. "Senti medo na Ucrânia. Os russos estão a destruir as nossas cidades. Estava preocupado com a segurança da minha família, não tanto comigo", relata.
Ruslan e a sua família fugiram para a Eslováquia. Depois de uma noite numa igreja local, mudaram-se para Berlim. Agora ele tem finalmente uma oportunidade de se sentar e recuperar de tudo o que passou. Mas, como muitos outros, ele não faz ideia de para onde ir a seguir.
"Acho que não posso voltar à Ucrânia. A infraestrutura já está destruída e não sabemos o que vai acontecer a seguir. Penso que não será seguro para a família", afirma Ruslan.
Ruslan é um dos poucos homens dentro da tenda. A maioria dos refugiados são mulheres e crianças. Atualmente, o Governo da Ucrânia não permite que homens com idades entre os 18 e os 60 anos deixem o país.
Em vez disso, o Governo quer que eles combatam as tropas russas. O primo de Ruslan, Vlad, que veio dos EUA para ajudar os seus familiares, está chateado com isso. Os seus outros dois primos não puderam deixar a Ucrânia, apenas as suas mulheres e filhos.
"Dois dos meus primos ainda estão na Ucrânia neste momento e as suas famílias estão aqui. Não sabemos o que lhes irá acontecer na Ucrânia. As famílias estão com saudades dos seus pais, por isso a situação é terrível", diz Vlad.
Cada vez mais refugiados deixam a tenda. Há autocarros no exterior que os podem levar para o centro de acolhimento do Governo. Mas entretanto chegou um novo comboio e dentro de pouco tempo, a tenda fica cheia novamente.
A guerra na Ucrânia acontece há quase 20 dias. Os líderes ucranianos e russos mantêm negociações para um cessar-fogo, mas ainda não houve consenso.