Etiópia: Primeiro-ministro na frente de batalha
24 de novembro de 2021"A mudança do primeiro-ministro para a linha da frente é uma decisão clara e exemplar de um verdadeiro líder. Não há nada mais etíope. Os etíopes devem seguir o primeiro-ministro e marchar para salvar o país", anunciou Legesse Tulu, numa conferência de imprensa na capital, Adis Abeba.
O vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros, Demeke Mekonnen Hassen, vai tratar dos assuntos de rotina do Governo durante a ausência de Abiy da capital, explicou Tulu.
De acordo com o porta-voz, "outros altos funcionários governamentais também aceitaram o apelo do primeiro-ministro e irão para as frentes de guerra", enquanto "os líderes que permanecerem concentrar-se-ão no seu trabalho regular".
O vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2019 prometeu, segunda-feira (22.11), que iria lutar no campo de batalha contra os rebeldes de Tigray a partir de terça-feira porque o país "precisa de fazer sacrifícios" neste momento.
O primeiro-ministro exortou "todos os cidadãos" a defender o país e "confrontar o inimigo" no campo de batalha.
"É uma luta que determina se vivemos ou não. Mas venceremos definitivamente. É impensável que a Etiópia seja derrotada", acrescentou Abiy.
E chegam as respostas ao apelo
O apelo do chefe do Governo entusiasmou personalidades etíopes como o lendário ex-atleta Haile Gebrselassie, duas vezes campeão olímpico dos 10.000 metros, que disse aos meios de comunicação estatais, terça-feira, que fará tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar o seu país, "incluindo ir lutar".
A atleta Feyisa Lilesa, medalhista de prata na maratona dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016, também disse que era a favor de ir para o campo de batalha.
Abiy assumiu esta posição depois das forças da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF) terem conquistado, no fim de semana, a cidade de Shewa Robit na vizinha região de Amhara, a cerca de 220 quilómetros de Adis Abeba, sede da União Africana (UA), entre outros organismos internacionais.
A guerra eclodiu a 4 de novembro de 2020, quando Abiy ordenou uma ofensiva contra a TPLF, em retaliação a um ataque a uma base militar federal e na sequência de uma escalada de tensões políticas.
Até agora, segundo as Nações Unidas, milhares de pessoas foram mortas e registam-se cerca de dois milhões de deslocados em Tigray, cujos rebeldes expandiram o conflito para as regiões vizinhas de Amhara e Afar.
A TPLF, que antes de Abiy chegar ao poder em 2018 dominou o Governo etíope, formou também uma aliança com outros grupos insurgentes, tais como o Exército de Libertação Oromo (OLA), ativo na região de Oromia, no redor de Adis Abeba.
As medidas internacionais
Os receios de que os rebeldes pudessem tomar a capital levaram a que a comunidade internacional agisse diplomaticamente, no sentido de pôr termo às hostilidades e de encontrar uma solução que conduza o país a um cessar-fogo.
O enviado especial da UA para o Corno de África, o ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, reuniu-se recentemente com os líderes de ambos os lados, mas estas conversações não deram, até agora, qualquer fruto.
O secretário de Estado norte-americano Antony Blinken avisou, na semana passada, em Nairobi, que a guerra ameaça a segurança do Corno de África, e instou as partes em conflito a voltarem ao "processo político" para resolver a disputa.
As Nações Unidas anunciaram, terça-feira /23.11), que irão retirar as famílias e familiares do seu pessoal da Etiópia devido à insegurança no país, e países como os Estados Unidos da América, Reino Unido, Alemanha e França recomendaram que os seus nacionais deixassem a Etiópia.
Estando a Etiópia no cerne das preocupações internacionais, o Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou, terça-feira, o lançamento de uma "grande" operação de ajuda humanitária para mais de 450.000 pessoas no norte da Etiópia, em Dessie e Kombolcha.
A resposta do PAM no norte da Etiópia precisa urgentemente de 248 milhões de euros para satisfazer as necessidades durante os próximos seis meses.
O balanço do conflito ascende a milhares de mortos, a dois milhões de pessoas deslocadas internamente e, pelo menos, 75.000 refugiados no vizinho Sudão, de acordo com números oficiais.