Etiópia: Um ano do primeiro-ministro Abiy Ahmed
2 de abril de 2019A Etiópia está numa fase de viragem. Desde que assumiu o poder, a 2 de abril de 2018, o primeiro-ministro Abiy Ahmed empreendeu grandes mudanças: fez um acordo de paz com a vizinha Eritreia, promoveu reformas económicas e manteve conversações de reconciliação com a oposição. Abiy conseguiu tudo isso em apenas um ano, mas enfrenta fortes ventos contrários vindos dos seus opositores políticos.
No seu discurso de empossamento, Abiy prometeu reformas no sistema judicial e político. Ele foi elogiado pela decisão de libertar centenas de presos políticos, jornalistas e ativistas, bem como por convidar os políticos da oposição no estrangeiro a regressarem ao país. A abertura que o seu Governo deu às esferas políticas e a mediáticas são vistas como um progresso. Kjetil Tronvoll, professor de estudos de paz e conflitos na Universidade Bjørknes de Oslo, na Noruega, reconhece "ele desconectou o Estado autoritário e permitiu a diversidade de opiniões"
Abertura Política
Jornais e revistas que publicam opiniões estão agora disponíveis nas ruas de Addis Abeba. Os jornais eletrónicos multiplicaram-se como plataformas de diálogo e os políticos organizam-se de forma livre e aberta. Por mais de duas décadas não houve espaço para isso.Merera Gudina, presidente do Medrek, partido multi-étnico da oposição e professor de ciências políticas e relações internacionais na Universidade de Addis Abeba pensa que Abiy merece nota positiva por ter emendado a legislação repressiva. Contudo, lamenta "falta um cronograma para as eleições de 2020 e falta de consenso nacional entre partidos políticos."
No passado mês de Dezembro no seu relatório sobre as desigualdades na celebração do 70º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, a Amnistia Internacional salientou o progresso feito na Etiópia desde a eleição do primeiro-ministro Ahmed. Contudo também notou que cerca de 3 mil jovens foram presos no passado mês de Setembro, muitas vezes arbitrariamente, devido ao aumento da criminalidade.
Indefinição estratégica
Entretanto, o Governo adiou o recenseamento [eleitoral] previsto para este mês de abril por causa dos conflitos étnicos, do deslocamento de pessoas e da instabilidade. Isso desencadeou reações diversas, enquanto Tronvoll pensa que um adiamento das eleições pode determinar a continuidade do conflito, Merera argumenta que um adiamento terá um maior impacto sobre as eleições de maio de 2020 e poderá mesmo por em causa o processo.Para além da indefinição sobre a data das eleições, outro desafio para Abiy é a proliferação dos partidos políticos, que são mais de cem. O primeiro-ministro sugeriu que se coligassem, entendendo que entre três a seis é o suficiente.
Quanto à política externa de Abiy, logo no início de seu mandato foi bastante elogiada. Ele pôs fim à tensão com a vizinha Eritreia, país que esteve em guerra de fronteira com a Etiópia de 1998 a 2000. Abiy também encontrou-se com o líder eritreu, Isais Afewerki, um diálogo apoiado pelos países vizinhos Sudão, Somália e Djibuti. No entanto, esses passos ainda não são suficientes, entende Tronvoll. "O processo eritreu carece de um quadro legal. Há uma declaração de intenções assinada em Asmara em Julho de 2018 e mais tarde em Jeddah, mas estes não são documentos legais vinculativos. É preciso um novo acordo que regule o comércio, tarifas, moeda, cidadania, segurança."
Abiymania
O fenómeno conhecido como 'Abiymania' continuava muito evidente quando o primeiro-ministro visitou a Alemanha em Outubro de 2018. 20, 000 etíopes a viver no exílio juntaram-se na cidade de Frankfurt para celebrar o novo líder. Desde então, muita dessa euforia dissipou-se.