Nhamadjo acusa "Jomav" de levar país à beira de “explosão”
20 de maio de 2019Na Guiné-Bissau avizinham-se dias sombrios para o país mergulhado na mais frustrante crise política de sempre para o povo guineense. A coligação dos partidos que forma a maioria parlamentar ameaça empossar um novo primeiro-ministro na quarta-feira (22.06.), na sequência de uma manifestação de rua. À DW, o antigo Presidente guineense acusa o atual de pretender levar o país à "explosão".
Manuel Serifo Nhamadjo, que foi Presidente de Transição da Guiné-Bissau depois do golpe de Estado de 2012, responsabilizou nesta segunda-feira (20.05) o atual Chefe de Estado guineense, José Mário Vaz, pelo impasse que o país vive desde que lhe entregou a chave da presidência do país. O Presidente, que termina o mandato no dia 23 de junho, ainda não convidou o partido vencedor, o PAIGC, para indicar o nome do futuro primeiro-ministro, cuja tarefa será a formação do próximo Governo e estabilizar o país.
"Jomav é responsável pela crise"
Em entrevista à DW África, Serifo Nhamadjo acusa o Presidente Mário Vaz de estar sempre a violar a Constituição da República e de ser o pivô de toda a instabilidade governativa que a Guiné-Bissau está a viver nos últimos 4 anos.
"Como garante da estabilidade e do cumprimento das normas constitucionais, ele tem feito tudo menos isto. A prova é que neste momento deveria ter convidado o partido que ganhou as eleições para apresentar o candidato ao primeiro-ministro, mas não o fez e já lá vão dois meses, com argumentos que não convencem a ninguém”, declarou Nhamadjo à DW África a partir de Portugal onde se encontra em contatos com a disporá guineense.
Para Serifo Nhamadjo que obteve 15,75% dos votos na primeira volta das presidenciais de 2012,(o pleito eleitoral que viria a ser interrompido pelos militares), o Presidente "Jomav" é contraditório nas suas afirmações públicas e desde que chegou ao palácio só inventou crises.
Com os apelos e pressões vindos de vários quadrantes, Nhamadjo não tem dúvidas que "o Presidente José Mário Vaz não terá outro caminho se não convidar o partido vencedor e resolver o problema do novo Executivo. E, a nível do Parlamento, fazer os bons ofícios juntos dos líderes de forma a encontrar uma solução para o impasse, caso contrário [José Mário Vaz] estará a complicar o sistema e a fazer o trabalho fora da Constituição”, sublinhou.
Guiné-Bissau a beira de uma explosão
Nhamadjo afirma que o Presidente da Guiné-Bissau está a aumentar ingredientes que possam fazer o país explodir :
"Neste momento, tudo está em aberto. Quanto mais se esticar a situação, terá mais extremar de posições e aumentarão as frustrações. Está-se a aumentar ingredientes para uma "explosão", porque o país não pode continuar como está com um impasse que causa frustrações a todos os níveis”, afirma.
O político de 61 anos de idade que já foi também vice e presidente interino do Parlamento da Guiné-Bissau, em 2011, garante que vai concorrer às primárias do PAIGC para ser o candidato do partido nas próximas presidenciais, ainda sem data marcada, mas que eventualmente terão lugar em novembro deste ano. Nhamadjo acusa, por outro lado, José Mário Vaz de não ser uma figura apaziguadora, dialogante e de não ser capaz de unir os guineenses.
"A lei diz uma coisa e ele faz interpretações de acordo com os seus interesses. Tenta sempre arranjar argumentos que complicam a Governação e que criam a instabilidade política. Infelizmente, ao longo do seu mandato, José Mário Vaz só serviu para inventar crises e fazer parte do problema. Agora, não marcando a data das presidenciais à espera que lhe digam o que deve fazer é mais uma nódoa negra no seu mando”, acusa.
Povo vai empossar o seu primeiro-ministro
Entretanto, as estruturas dos partidos que formam a nova maioria Parlamentar, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), União para a Mudança (UM) e Partido da Nova Democracia (PND) preparam para a próxima quarta-feira (22.06.), uma marcha, que segundo dizem, servirá para o povo empossar o novo primeiro-ministro, como nos conta Dionísio Pereira, líder da Juventude Africana Amílcar Cabral (JAAC), organizadora do protesto.
"Já chegamos ao limite com mais de 68 dias sem o novo Governo... então não podemos esperar o Presidente da República fazer o que quiser. Na democracia é o povo quem ordena, se José Mário Vaz, não quer cumprir com a sua responsabilidade constitucional, então o povo vai sair a rua, manifestar a sua indignação e empossar o seu primeiro-ministro eleito”.
Num comunicado na posse da DW, os quatro partidos que formam a nova maioria parlamentar referem também a sua "absoluta indisponibilidade em negociar as leis da República” e a sua "determinação intransigente em respeitar e fazer cumprir a Constituição”.
Mais de dois meses depois das eleições a crise política agudizou-se e o país continua estagnado. A comunidade internacional em peso tem apelado ao Presidente guineense para nomear um novo primeiro-ministro, com base nos resultados eleitorais de março último.