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Petróleo na Namíbia: Ativistas apontam riscos ambientais

Jana Genth
19 de maio de 2021

A canadiana ReconAfrica iniciou a perfuração de poços na região de Okavango, na Namíbia. A petrolífera acredita que a área pode conter uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Mas há temores de danos ambientais.

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Perfuração de poço de petróleo na Bacia do Kavango, na NamíbiaFoto: Cai Nebe/DW

Estima-se que a reserva de petróleo esteja sob a bacia do Cubango, uma grande zona na Área Transfronteiriça de Conservação do Okavango/Zambeze, mais conhecida como KAZA, que cobre a maior parte da Namíbia e Botswana, mas também Angola, África do Sul, Zâmbia e Zimbabué. A região contém algumas das paisagens mais intocadas do mundo e uma vasta biodiversidade - algumas em risco de extinção. A economia local depende do turismo.

Por isso, mais de 100 mil assinaturas foram entregues por ativistas namibianos à embaixada alemã em Windhoek. O objetivo é claro: o Governo alemão deveria tomar uma posição contra a perfuração de teste na região do parque KAZA.

Tem havido muitos protestos na própria Namíbia, mas sem sucesso, disse à DW Ina Maria Shikongo, ativista do movimento "Sextas-feiras para o Futuro" (Fridays for Future) em Windhoek. "Todos os dias ouvimos histórias de corrupção - e nada é feito, nada mesmo. A pressão tem de vir do exterior!"

Perfuração de poços

Entretanto, a petrolífera canadiana ReconAfrica acaba de iniciar a perfuração do seu segundo poço de ensaio no nordeste da Namíbia, a quase quatro quilómetros de profundidade.

Botswana Fluß Okavango
Operadores turísticos e outros dependentes do turismo estão preocupados com a exploração de petróleo na regiãoFoto: Getty Images

Jofie Lamprecht também está a fazer campanha contra a presença da petrolífera na região. Ele tem um alojamento perto do local da exploração e vive do turismo de safari. "Um geólogo disse-me noutro dia que o petróleo seria uma coisa do passado em oito anos", protestou.

Mas a empresa aparentemente vê as coisas de forma diferente. A petrolífera oferece aos investidores a perspectiva de bons negócios. A empresa está também cotada na bolsa de Frankfurt, desde novembro de 2019. O preço da ação subiu cerca de 2000 por cento desde o seu lançamento. Os investidores já falam do "tesouro de África".

Perigo ambiental

No entanto, a namibiana Annette Hübschle, pesquisadora da Universidade da Cidade do Cabo, alerta: a exploração petrolífera na região representa um grande perigo para o mundialmente famoso Delta do Okavango.

"É um pouco mais longe, mas o distrito do Okavango, o rio Okavango e os rios subaquáticos e assim por diante, estão todos conectados. A ReconAfrica usou fossas não vedadas para esses poços de exploração. Essas fossas são então para os resíduos desses poços. São altamente tóxicos e corrosivos", alerta a investigadora, que diz que "esse armazenamento não seria permitido na Alemanha", por exemplo.

No entanto, a empresa canadiana, que não quis dar entrevista à nossa reportagem, afirma que os "regulamentos ambientais namibianos" permitem esse tipo de instrumento que, segundo a ReconAfrica, é "100 por cento seguro para o meio ambiente".

Apelos à comunidade internacional

A Recon Africa também tem licenças de exploração no vizinho Botswana. Angola, no norte, prepara-se igualmente para conceder licenças. Somente a comunidade internacional poderia interferir nessa questão, dizem os ativistas.

Namibia | Ölbohrung in Kavango
Uma estrada inteira foi construída para a ReconAfrica transportar os seus equipamentosFoto: Cai Nebe/DW

Barbara Metz, da Associação Alemã de Ajuda Ambiental, acredita que é a vez de o Governo alemão se manifestar.

"Este é o ponto onde o Governo Federal alemão entra em jogo - o país da reviravolta energética. Que o Governo alemão possa fazer um esforço para propor alternativas com a comunidade internacional, que também sejam atrativas para a Namíbia".

Governo namibiano de olho no petróleo

O Governo da Namíbia, no entanto, tem grandes esperanças em relação ao petróleo. No país, os jornais exibem por vezes caricaturas de políticos animados de um lado - e pessoas com recipientes vazios do outro, perguntando: "Então, já encontraste água?"

O empresário do turismo Jofie Lamprecht diz que o tema é complexo e, em entrevista à televisão pública alemã, ARD, criticou o que chamou de "neocolonialismo".

"O primeiro mundo está a tentar obter lucros a partir do terceiro mundo. Não creio que seja sustentável ou saudável para o ambiente correr esse risco para encontrar petróleo. As áreas devem permanecer como estão, a natureza selvagem deve ser preservada para as gerações futuras. Afinal de contas, daqui a 15 ou 20 anos vamos olhar para trás e pensar, que diabo é que fizemos?", criticou.

Resta saber se outros países vão tomar uma posição. No entanto, a questão não está tão distante da Alemanha, porque o parque KAZA está próximo das perfurações de teste. A área protegida, que inclui o Delta do Okavango, é maior do que a área combinada da França e da Grã-Bretanha. E o parque é apoiado pelo Estado alemão - o banco nacional de desenvolvimento Kreditanstalt für Wiederaufbau é o principal financiador do KAZA desde 2012.

O poder do petróleo