Falta de chuvas piora subnutrição infantil em Angola
24 de setembro de 2012
O resultado da descida de 60% da precipitação está à vista. Menos 400 mil toneladas de produtos agrícolas, o que afetará mais de 350 mil agregados familiares em Angola.
O alerta foi lançado num relatório do próprio governo angolano, através do Gabinete de Segurança Alimentar, em Maio deste ano, depois de uma análise realizada em dez províncias do país.
Mas, apesar de o executivo ter imediatamente anunciado a criação de dois planos de combate nas áreas de segurança alimentar e nutrição, num valor total que rondava os 100 milhões de dólares, até hoje só 12 milhões foram desbloqueados.
Um atraso que levou o Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários a intervir, como explica o responsável da instituição para Angola, Narciso Rosa-Berlanga: "O problema também foi de cariz administrativo. Toda a burocracia e transações internas do governo angolano dificultaram muito a monitoração dos fundos que foram aprovados e também aplicados. Neste momento, as Nações Unidas decidiram olhar para as necessidades", explicou Berlanga, dizendo que são necessários 5 milhões e cem mil dólares para "responder ao tema da seca, da segurança alimentar e também da nutrição".
Os 5 milhões do fundo de resposta rápida da ONU já foram distribuídos pela FAO, UNICEF e OMS, que já distribuíram sementes e utensílios agrícolas pelas províncias mais afetadas pela escassez de alimentos e começaram a formar a população na área da nutrição.
Ainda assim, diz Narciso Rosa-Berlanga, faltam dados concretos para que as instituições internacionais possam responder ao problema de forma eficaz: "Temos que ter mais dados de qual é a situação real. Tudo o que temos até agora são estimativas. Mas não tivemos uma avaliação própria [da ONU] no terreno, não podemos dar uma resposta se não estivermos seguros sobre os dados da zona e da população que é afetada".
Mais de 20 mil crianças mortas em 2012?
De acordo com o blogue Maka Angola, 20% das crianças angolanas com menos de 5 anos estarão numa situação de má nutrição severa e, entre elas, a taxa de mortalidade rondará também os 20%. As estimativas apontam para a morte de mais de 20 mil crianças em Angola em 2012, algo que o gabinete da ONU para os Assuntos Humanitários não confirma, frisando, no entanto, que a situação é grave.
"A possibilidade sempre existe", diz Narciso Rosa-Berlanga. "As situações são mais graves nas zonas rurais. [No entanto,] Eu não posso dizer que existem situações nas quais as pessoas estão a morrer de fome, ou de má nutrição. Mas a situação é séria. Todos juntos, os parceiros, o governo, têm que trabalhar", afirma o representante da ONU.
Para além de coordenar o trabalho de todas as instituições envolvidas na intervenção nas áreas da segurança alimentar e sanitária e nutrição, o Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários está a dar prioridade às ajudas ao sector agrícola
"Estamos fazer um pouco do seguimento de todas as atividades e também da situação. Por exemplo, as respostas da assistência aos agricultores têm de ser feitas neste mês, antes do próximo período agrícola".
Bié, Huambo, Kwanza Sul, Zaire e Benguela são as províncias mais afetadas pela escassez de alimentos, consequência da seca que atingiu Angola em 2011 e 2012. No terreno, as agências da ONU e outras organizações internacionais estão a trabalhar com o governo angolano e especialmente com a Proteção Civil nacional, para chegar aos grupos mais vulneráveis.
Autora: Maria João Pinto
Edição: Renate Krieger/António Rocha