Falta de medicamentos em Moçambique
19 de maio de 2017Tomé Joaquim teve de andar cinco quilómetros para chegar ao hospital rural de Alto Molocue. Na mão, levava uma receita médica onde estavam prescritos três medicamentos. Mas na farmácia do hospital disseram-lhe que os medicamentos estavam esgotados: “Não recebi medicamentos, porque aqui não tem.”, contou à DW África.
O caso de Tomé Joaquim não é o único. Os pacientes queixam-se que várias unidades de saúde na província da Zambézia, no centro de Moçambique, não têm medicamentos essenciais para tratar a malária ou mesmo para curar simples dores de cabeça.
Venda clandestina de medicamentos
Mulheres com bebés, idosos e jovens voltam para casa de mãos vazias. Foi o que aconteceu também a Anselmo Carlos: “Eu estou aqui há uma hora. E ainda não fui atendido. É frequente a falta de medicamentos e a morosidade. E o atendimento é a partir da 8 ou 9 horas locais. Há problemas aqui no hospital. Nós, o povo, estamos a chorar.”
Como não há medicamentos, quem tem dinheiro recorre aos vendedores ilegais, instalados nos bairros em redor. Aí, há fármacos que são dez vezes mais caros do que na farmácia do hospital.
O Director Distrital de Saúde de Alto Molocue, recusou prestar declarações à DW África, por não ter autorização superior para falar sobre o assunto.
Autoridades mantêm que não há falta de medicamentos
Mas o director provincial da saúde da Zambézia, Hidayate Kassim, desmentiu a falta de medicamentos nas farmácias dos hospitais públicos: “Nós temos medicamentos essenciais e até alternativos para tratar as doenças mais comuns”. Ou seja, explica, mesmo que falte um determinado medicamento, esse pode ser substituído por outros em stock: “O que estamos a fazer agora é trabalhar para uma maior coesão entre o clínico e o farmacêutico” para determinar que medicamentos existem nas farmácias públicas, diz o responsável.
Mas os pacientes não se contentam com a explicação e insistem na denúncia. Francisco António foi outra das pessoas que não conseguiu comprar medicamentos. E queixa-se da morosidade que considera estar pior do eu nunca: “Vinha levantar medicamentos, tenho um abcesso no pé. Mas ainda estou a esperar.” Este popular conta que viveu alguns anos no Zimbabué, onde nunca teve um problema semelhante: “Em Moçambique é assim, já nos acostumámos, o sofrimento é nosso.”