Famílias correm o risco de perder terrenos em Benguela
29 de março de 2016No município do Lobito, na província de Benguela, mais de 200 famílias estão na eminência de ficarem sem as suas terras de cultivo e sem as suas casas, que poderão ser destruídas pelas autoridades locais.
Segundo os populares, um grupo de militares, polícias, fiscais e membros da administração do Estado estarão interessados naquelas terras, localizadas na zona do Bango Bango e do Golfe, áreas costeiras da cidade do Lobito.
O caso já se arrasta há alguns meses mas, na semana passada, conheceu novos contornos, quando vários moradores viram as suas casas a serem demolidas. "Foram duas Ford Ranger que vinham ali, cheias de homens. Quando [eles] chegaram aqui, a primeira coisa que fizeram foi partir as casas. Partiram tudo o que encontraram", afirma Paulino Ernesto, um dos moradores, à DW.
Até agora, pelo menos quatro casas foram destruídas na zona do Bango Bango e, segundo o morador, não foram destruídas mais porque "os proprietários insistiram em ficar lá dentro". Paulino Ernesto afirma que a população não se sente segura.
Segundo Manuel Jordão, um dos moradores que viu a sua casa ser demolida, as autoridades do município do Lobito terão contratado um grupo de cidadãos conhecido pela sua conduta violenta e perigosa para aterrorizar os populares. "Eles não têm piedade, dão porrada, massacram o povo", afirma. "Nós fizemos um apelo ao administrador do Lobito para ver se ele nos ajuda a resolver este problema, porque nós não estamos em paz, estamos a viver com medo”.
Governo provincial não ajuda
Na localidade do Golfe, cerca de 160 famílias queixam-se igualmente de tentativa de usurpação de terras. Segundo os moradores, o antigo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Angola (FAA), Francisco Furtado, é o principal interessado em ficar com os terrenos.
No conflito, o militar é representado pela sua sobrinha Nádia Furtado, que diz que as terras foram dadas como presente, mas os moradores reclamam que já aqui habitam desde o tempo colonial.
De acordo com alguns moradores, o governador de Benguela, Isaac dos Anjos, garantiu que o diferendo seria resolvido, mas nada foi feito até ao momento.
"O governador disse-nos, na sede da província de Benguela, que primeiro iam dar os terrenos às famílias, e o que restasse era para a Nádia [Furtado]", afirma uma das moradoras do Golfe. "Mas até agora, nada! Nós continuamos aqui, em silêncio e a sofrer. Continuamos a ser torturados".
A DW África tentou contactar Nádia Furtado e Isaac dos Anjos, sem sucesso.