Festival de teatro no Rio de Janeiro homenageia Angola
22 de agosto de 2013De Angola, o país homenageado na edição deste ano do evento, veio também o autor homenageado, o dramaturgo José Mena Abrantes, diretor do grupo Elinga. “Nesta hora, confirma-se a lição aprendida nestas mais de quatro décadas e meia dedicadas ao teatro”, declarou o dramaturgo angolano no Rio de Janeiro.
Financiado por incentivos do Governo à cultura, o FESTLIP foi idealizado pela atriz Tânia Pires. A ideia terá surgido quando apresentou um espetáculo seu no Festival dedicado ao dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, na Noruega.
“Lá, cada país apresenta textos de Ibsen na sua própria língua, sem tradução. Eu tive a felicidade de assistir ao espetáculo Casa de Bonecas de Moçambique e fiquei muito encantada”, conta.
Quando regressou do festival norueguês, em 2006, Tânia Pires começou, então, a pesquisar sobre os países de língua portuguesa e sobre teatro.
Um século de guerras em Angola
A peça escolhida para a abertura do FESTLIP foi “Amêsa”, uma co-produção Brasil-Angola, criada na Escola de Teatro da Universidade da Bahia. Com texto de José Mena Abrantes, concentra-se nas cicatrizes deixadas pela recente guerra civil do país (1975-2002).
“O espetáculo fala das guerras em Angola, mas a partir das vivências da personagem Amêsa. O espetáculo não traz bombas, nem minas, nem a violência propriamente dita, mas traz as memórias e as cicatrizes dessa mulher”, explica a atriz Heloísa Jorge, que interpreta Amêsa.
Heloísa Jorge é angolana e chegou ao Brasil quando tinha 12 anos. Para interpretar a personagem Amêsa, a atriz baseou-se muito na sua própria história e nas suas memórias.
Narrativa da vida de uma mulher
“Quando vi o texto pela primeira vez, nem sabia que era de um angolano”, revela a diretora da peça, Suzi Costa. O que lhe chamou a atenção foi a “narrativa da vida de uma mulher, passando pelas fases arquetípicas da vida de um ser humano”, sobretudo do feminino.
Amêsa é “uma mulher que conhece um homem estrangeiro, que aborta um filho, que perde o pai e a mãe, torna-se órfã e, a partir daí, tem de olhar o mundo com os seus próprios olhos”, conta Suzi Costa.
Todos os anos, o FESTLIP homenageia uma personalidade que influencia o teatro em língua portuguesa. Em 2011, o festival homenageou a Companhia de Teatro e Dança de Cabo Verde Raiz di Polon. Em 2010, o festival rendeu-se ao talento da atriz portuguesa Maria do Céu Guerra. Em 2009 foi a vez do escritor e dramaturgo moçambicano Mia Couto e, em 2008, da atriz brasileira Maria Fernanda.