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Angola quer maioria no BFA

João Carlos / Lisboa7 de janeiro de 2016

Preocupado com a exposição dos bancos portugueses aos riscos da economia angolana, o Banco Central Europeu obriga o Banco Português de Investimento a separar-se dos seus ativos em África. Angola mostra interesse.

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Foto: DW/Jochen Faget

A Unitel, operadora de telecomunicações controlada por Isabel dos Santos, quer ficar com a maioria do capital do Banco Fomento de Angola (BFA), detido em 50,1 por cento pelo Banco Português de Investimento (BPI).

A empresa angolana, liderada pela filha do Presidente de Angola, oferece 140 milhões de euros para aquisição de dez por cento das ações do BFA, onde detém uma participação de 49,9 por cento. A oferta da Unitel corresponde a uma contraproposta de Isabel dos Santos ao projeto de cisão das participações que o BPI tem em África, por imposição das regras do Banco Central Europeu (BCE). Em causa está a experiência do colapso do Banco Espírito Santo (BES), em Portugal, por arrastamento da hecatombe do extinto BES Angola.

Discórdia em relação ao BPI

Além de controlar a Unitel, Isabel dos Santos é dona da sociedade Santoro, segundo maior acionista do BPI, depois dos espanhóis da Caixabank. A empresária angolana discorda do projeto do banco português dirigido por Fernando Ulrich. A compra de dez por cento do BFA faria da empresária angolana a acionista maioritária do banco angolano.

Os mercados bolsistas estão a reagir bem à contraproposta da Unitel. O analista económico, Luís Ferreira Lopes explica porquê: “É na verdade uma forma provavelmente mais eficaz de manter o controlo do BFA por parte de Isabel dos Santos e por parte da Unitel. E poderá ser uma saída airosa relativamente à necessidade que há de uma cisão por causa das regras do Banco Central Europeu. E de alguma forma dá jeito à gestão do BPI, dá jeito ao maior acionista que são os espanhóis do La Caixa, que detêm mais de 30% do capital, mas que, por causa dos estatutos, não conseguem exercer o poder de facto”.

BFA é um “banco apetecível”

O BFA é considerado um banco apetecível, com uma boa cota de mercado em Angola. É igualmente o ativo mais valioso do grupo BPI no mercado africano. O que está em causa, segundo Luis Ferreira Lopes, é o risco de exposição excessiva da banca portuguesa à dívida angolana, face à nova realidade determinada pela queda do preço do petróleo.

Isabel dos Santos
A acionista Isabel dos Santos tem um atrito com a administração do banco português BPIFoto: picture-alliance/dpa

Gozando de direito de preferência, Isabel dos Santos tem os trunfos na mão, uma vez que o BPI está sob pressão em termos de tempo para cumprir as exigências do BCE. Mas a filha do presidente de Angola também tem muito a perder se o BPI tiver um problema com o mecanismo europeu de resolução – afirma outro analista económico, Filipe Alves, porque há um outro “acionista minoritário muito relevante, que é a Oi, que ficou com os ativos africanos da antiga Portugal Telecom. E a Oi que, por sua vez, também está num diferendo com a Isabel dos Santos, também já deu sinas de que pretende ter uma palavra a dizer neste negócio, como forma de exercer pressão sobre Isabel dos Santos. Portanto, há aqui um conjunto interessante de jogadores em campo, por assim dizer. E essa questão estará depois relacionada também com o próprio equilíbrio de poder pelo BPI a nível do grupo”.

Resolver rapidamente o diferendo

O co-autor do livro “Os Novos Donos Disto Tudo” considera saudável um entendimento com Isabel dos Santos em relação ao valor de 140 milhões de euros que ela está disposta a pagar pelos 10 por cento do BFA.

Para Luís Ferreira Lopes, o importante é resolver o diferendo o mais rapidamente possível. O especialista considera ser possível que a proposta de Isabel dos Santos seja rapidamente aceite: “Sinceramente, já não estou a ver assim uma grande margem de manobra da própria administração do BPI para rejeitar (a proposta). Porque ela está escudada no interesse espanhol do La Caixa em libertar-se – entre aspas – do jogo e da pressão permanente de Isabel dos Santos”.

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Uma decisão sobre este negócio será votada na Assembleia Geral do BPI prevista para a primeira semana de fevereiro, na capital portuguesa.