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"Foi um grande choque", lembra órfã do acidente que matou Samora Machel

Milton Maluleque (Joanesburgo)24 de novembro de 2014

Passaram 28 anos desde o acidente aéreo de Mbuzine, na fronteira entre Moçambique e a África do Sul. Mas há muitas dúvidas que persistem. Uma órfã do desastre falou à DW África.

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Estátua de Samora Machel em ChimoioFoto: DW/Johannes Beck

28 anos depois, ainda há muitas dúvidas sobre o que provocou o acidente que matou o primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, além de outros 33 passageiros que seguiam a bordo do avião russo que efetuava o percurso entre Lusaka (Zâmbia) e Maputo (Moçambique). Falou-se na possibilidade de negligência por parte da tripulação do Tupolev, acusou-se também o antigo regime de segregação racial na África do Sul, o apartheid, de ter desviado a aeronave a 19 de outubro de 1986. Mas certezas não há.

Muchimba Sikumba-Dils, especialista em matérias do género e da água na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) conta à DW África que o acidente mudou, para sempre, a sua vida.

DDR Afrika Erich Honecker mit Besuch aus Mosakbik
Samora Machel recebe em visita a Maputo Erich Honecker, Presidente da RDA (dezembro de 1980)Foto: Bundesarchiv/Bild 183-M09 19-0116 F. Gahlbeck

"O meu pai, Cox Sikumba, na altura embaixador da Zâmbia em Moçambique, foi uma das vítimas mortais no acidente. A notícia foi para mim um grande choque", lembra Sikumba-Dils. "Estava em plena festa da minha graduação e a preparar-me para fazer um mestrado quando recebi a notícia. Claro que não consegui continuar os estudos porque estes eram suportados pelo meu pai. Tive de pôr de lado a ideia do mestrado."

Dor uniu famílias

Para Sikumba-Dils, a dor comum criou uma espécie de familiariadade entre as pessoas que perderam os seus familiares.

"Temos grandes amizades com a família Machel. Para mim, são os meus irmãos e os nossos contactos são permanentes. Sempre que preciso deles estão lá para me ajudar”, destaca Sikumba-Dils que após o acidente passou a viver em Moçambique, onde foi adoptada no seio da família de Samora Machel.

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Sikumba-Dils continua à espera de respostas, como muitos outras pessoas. Depois do surgimento de novas provas em torno do acidente de Mbuzine, que incluem fotos, documentos e gravações de voz, o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, ordenou em 2012 a reabertura das investigações para o apuramento dos responsáveis pela morte de Samora Machel e dos outros 33 ocupantes do avião.

Até aqui, nada foi dito acerca destas investigações. Enquanto se desconhecem os autores do desastre, os orfãos já cresceram, como nos diz Muchimba Sikumba-Dils.

"Já somos todos adultos. Mesmo aqueles que eram bébés na altura do acidente hoje são homens e mulheres de 27 e 28 anos de idade. E nós que já temos cinquenta e tais já somos mamãs e avós. Mas a vida continua."

O acidente que matou Samora Machel

Samora Machel, primeiro Presidente de Moçambique independente, morreu a 19 de outubro de 1986, quando o avião em que viajava se despenhou na zona montanhosa de Mbuzine, território sul-africano, a escassos metros da fronteira de Moçambique.

Nas celebrações de mais um aniversário sobre a data fatídica, a localidade acolheu este ano menos pessoas do que em anos anteriores pelo facto de as autoridades sul-africanas terem exigido passaporte aos moçambicanos que residem na zona fronteiriça entre os dois países.

Recorde-se que o Governo moçambicano responsabilizou o então regime do "apartheid" pelo desastre, que, por sua vez, atribuía sempre a queda do avião a erros da tripulação russa que comandava o aparelho, nunca tendo aberto uma nova investigação do caso.

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