Fome na Somália
9 de março de 2017O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, esteve esta semana na Somália e pediu à comunidade internacional ajuda urgente para "evitar o pior".
"Conflito, seca, mudanças climáticas, doença, cólera. A combinação é um pesadelo", afirmou Guterres.
A Somália enfrenta o risco de uma nova crise de fome como a de 2011, em que morreram 250 mil pessoas. Na semana passada, no espaço de 48 horas, foram registadas pelo menos 110 mortes devido à seca e diarreias graves. Na região de Baidoa, no sudoeste do país, as autoridades dizem que há um surto de cólera incontrolável.
"Vendo isto sinto um desgosto extremo", disse o secretário-geral da ONU. "É lamentável que no mundo de hoje, com toda a riqueza que existe, estas tragédias humanitárias ainda possam acontecer. É inacreditável."
Na rede social Twitter, Guterres pediu ao mundo inteiro para agir imediatamente.
As Nações Unidas anunciaram, no final de fevereiro, que precisavam de 4,4 mil milhões de dólares em fundos de emergência para combater a fome na Somália, Nigéria, Sudão do Sul e Iémen.
Apoio urgente
"A insegurança alimentar constitui um grave problema em praticamente todas as regiões da Somália", afirma Joachim Rahmann, colaborador da organização não-governamental "Save the Children".
"Há quatro anos que praticamente não chove", diz. "É isso que contribui para esta crise extrema em todo o país. A nossa organização está em contacto com as populações nas regiões mais afetadas. Existem famílias que tinham 200 cabras, mas esses animais morreram todos. E isso levou a que elas perdessem o sustento, dependendo inteiramente do apoio humanitário internacional."
O ativista saúda, por isso, a visita de Guterres: "A crise não tem a visibilidade que deveria ter a nível internacional. E não me refiro apenas à Somália, como também a outros países da região do Corno de África."
Esta foi a terceira visita à Somália de um secretário-geral da ONU em mais de duas décadas. Quebrando uma longa ausência, o predecessor de Guterres, Ban Ki-moon, visitou Mogadíscio, pela primeira vez, em 2011, quatro anos depois de tomar posse como secretário-geral. Regressou em 2014.
Tanto a comunidade internacional, como a missão de paz da União Africana (AMISOM) têm apoiado o Estado somali.
A missão, que integra 22 mil soldados, tenta criar as condições necessárias para erradicar o terrorismo dos militantes islâmicos 'shebab', próximos da rede Al-Qaida. Mas o grupo radical ainda controla vastas regiões do centro e sul e prometeu lutar "sem piedade" contra as novas autoridades somalis.