Fraco ano agrícola deixa Manica em risco de fome
22 de março de 2024A falta de chuva e as temperaturas acima do normal têm agravado os efeitos das alterações climáticas associados ao fenómeno El Niño, que já causou a destruição de mais de 60 mil hectares de culturas na primeira campanha agrícola de 2023/2024, segundo dados oficiais.
A situação está a colocar cerca de 819 mil pessoas em risco de fome. O diretor provincial de Agricultura e Pescas de Manica, Ernesto Lopes, descreve a situação como "dramática" e "lastimável", e apela à população camponesa para não baixar os braços.
"A situação neste momento não é boa, porque os cereais e o milho já estão perdidos em alguns sítios. Após o levantamento que se fez e a necessidade que há em toda província, nós precisamos de potenciar a segunda época", frisou.
"Ainda não vi as pessoas a consumirem [frutos silvestres e tubérculos], mas não descarto essa possibilidade, porque a situação, de facto, é deveras preocupante", asseverou.
Apoios governamentais vão continuar
Ernesto Lopes garantiu ainda que o Governo vai continuar a assistir os produtores em técnicas básicas e adequadas para o cultivo de culturas resistentes à seca, como mandioca, mapira, batata-doce e outras que podem trazer esperança aos produtores.
Luís Sabonete, um dos líderes comunitários de Manica, afirmou que o seu distrito possui condições agro-ecológicas e climatéricas propícias, mas salientou que a falta de chuva condicionou a agricultura de subsistência.
"Este ano na província de Manica há pobreza, porque a província de Manica tem uma grande bolsa de fome", lamentou. "O Governo deveria procurar uma qualquer forma de nos ajudar, sem isso estamos mal", alertou.
Para o camponês António Tenente, a invasão das áreas de cultivo pelas empresas mineiras e também pelos garimpeiros contribuiu para a fraca produção. "As zonas baixas [áreas de sequeiro] já foram danificadas através destas empresas mineiras, isso significa que aquelas áreas já não funcionam mais", denuncia.
Mais empenho, pede o Governo local
A governadora da província de Manica, Francisca Tomás, apelou aos produtores para se empenharem na segunda época agrária de 2023/24.
"[Isso] significa apostar na cultura da segunda época dando as melhores técnicas de agricultura para que elas possam produzir as culturas resistentes à seca, porque estamos a ver que poderemos ter de facto uma [situação de] fome que pode abranger muitas famílias", confirmou.
Segundo números do Governo local, o setor da Agricultura em Manica necessita neste momento de pelo menos 41 mil toneladas de sementes de milho, 12 mil toneladas de feijão-nhemba, 50 mil toneladas de batata reno e 30.900 de batata-doce, entre outros produtos, para apoiar os afetados.