Fundação Konrad Adenauer fecha portas em Moçambique em fase crítica do país
29 de abril de 2013A DW África entrevistou Sultan Mussa, coordenador do programas da fundação em Moçambique. A fundação alemã Konrad Adenauer Stiftung está ligada ao partido democrata-cristão CDU, maior partido da coligação governamental da Alemanha. Sultan Mussa salienta que a fundação tem apoiado os partidos da oposição, como a RENAMO e o MDM, na consolidação política e democrática de Moçambique.
DW África: A que se deve o encerramento?
Sultan Mussá (SM): Deve-se a restrições financeiras associado a cortes orçamentais para o trabalho da Fundação Konrad Adenauer na África Sub-sahariana, e Moçambique está também dentro desse plano. Então, a Fundação foi forçada a implementar o seu programa e a fechar os seus escritórios em Maputo.
DW África: Isso quer dizer que alguns projetos poderão ficar pelo caminho?
SM: Sim, e essa é a questão grave. Praticamente a nossa organização é a única que apoia os partidos da oposição e a sociedade civil, jovens políticos que queiram trabalhar nessa área de educação cívica e boa governação que gostem de participar no desenvolvimento político de Moçambique. E não só, temos compromissos com os parceiros e temos também eleições este ano e no próximo também. É neste âmbito que gostaríamos de trabalhar mas não vai ser possível.
DW África: Isso quer dizer que o encerramento poderá ser um golpe duro para a consolidação da oposição em Moçambique?
SM: Exatamente isso. É um grande golpe. Estamos a tentar negociar com a central. E se tivéssemos a informação um pouco antes, com dois anos de antecedência ou se deixássemos passar as eleições para depois fecharmos, ai não haveria problemas.
DW África: Esse encerramento é para breve?
SM: Sim, para meados deste ano. Temos de tentar, talvez através de outras organizações alemãs que estão aqui, viabilizar as coisas. O grande perigo é que não se estabeleça diálogo entre esses partidos, temos grandes investimentos, megaprojetos, uma classe cada vez mais rica, e que tem o controle de tudo. Então, a massa toda, a sociedade, fica fora desse processo. Temos uma sociedade que gostaria de participar nesse processo de desenvolvimento, mas isso não está a acontecer e a pobreza também está a crescer. Além disso na nossa governação em vez de descentralização estamos a sofrer uma concentração de poderes, temos vários exemplos que falam disso e sobre uma re-concentração de poder. Então, nós da Fundação Konrad Adenauer (KAS) trazemos isso a imprensa, a debates abertos com partidos políticos para desenfrear um pouco essa situação, trazer pelo menos o equilíbrio.
DW África: Portanto, em ano de eleições uma notícia má. Que alternativas terá a KAS para dar um certo apoio a esse processo eleitoral?
SM: Sem fundos é difícil. Talvez com outros parceiros. O grande desafio nos próximos 5 a 10 anos é haver o equilíbrio das forças, em que não haja uma super elite que domine tudo e que haja uma crise social como já se viu em vários países africanos. Onde há recursos naturais há sempre uma crise, e nós queriamos evitar isso.
DW África: Precisamente numa altura em que a comunidade internacional tem os olhos postos no desenvolvimento de Moçambique, aliás o próprio ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, que está em Moçambique, disse numa entrevista que a Alemanha está satisfeita com a forma como o Governo moçambicano gere os fundos e as ajudas, e ao mesmo tempo encerra o escritório de uma Fundação que pertence a um dos partidos do Governo de Berlim. Não acha que há uma contradição nisso?
SM: Infelizmente há uma contradição, mas foi uma decisão central da Fundação, se calhar houve um mal entendido. Mas não posso explicar isso, mesmo a representação da embaixada aqui acha que é uma decisão muito repentina. Acho que não houve uma concertação entre o Governo e a Fundação.
DW África: Mas há outras fundações que continuam, nomeadamente a Friedrich Ebert Stiftung. Será que há alguma leitura nesse sentido?
SM: É um pouco difícil, a Fundação Friedrich Ebert está cá há mais de 35 anos, ela apoiou sempre o partido de esquerda, a FRELIMO nesse caso.
DW África: Será que existem pressões por parte das autoridades moçambicanas?
SM: Nesse âmbito não posso falar, mas o que eu sei é que foi difícil termos seminários, debates porque somos observados de um certo ângulo, porque apoiamos a sociedade civil que é contraditória ao partido no poder, então isso traz questões.