"Fundo Soberano de Angola não tem nada a ver com o Banco Kwanza Invest“
23 de abril de 2013O suíço Marcel Krüse veio de propósito de Luanda para falar, em Frankfurt, sobre "financiamento de investimentos em Angola“, numa mesa redonda integrada na "Africa Business Week". Krüse é o presidente do conselho de administração do Banco Kwanza Invest, um banco de investimento de capitais angolanos, com sede em Luanda, fundado em 2008 por José Filomeno ("Zénu") dos Santos, um dos filhos do Presidente de Angola.
Marcel Krüse, de 48 anos, dirige, pois, um banco completamente angolano, administrado por uma equipa germano-suíça, constituída também pelo ex-presidente do Banco Central Alemão, Ernst Welteke, e o angolano-suíço, Jean-Claude de Morais Bastos.
Em entrevista à DW África, Marcel Krüse fez questão de sublinhar que, ao contrário do que tem sido veiculado na imprensa internacional, não é o Banco Kwanza Invest que gere o Fundo Soberano de Angola: "O Fundo Soberano não tem nada a ver com o Banco Kwanza Invest", disse.
Quantum Global
Desde o lançamento do Fundo Soberano de Angola, em outubro de 2012, têm sido feitas muitas críticas contra o Banco Kwanza Invest. As críticas atingem também os parceiros de Krüse no conselho de administração do banco, nomeadamente o alemão Ernst Welteke e o suíço-angolano, de Morais Bastos, também chefes da firma de investimentos suíça, Quantum Global.
A DW África perguntou a Marcel Krüse se a Quantum Global está envolvida em negócios do Fundo Soberano angolano, com um capital inicial de cinco mil milhões de dólares americanos. E, se isso se verificar, de que forma está envolvida e porquê?
Porém, Krüse declinou responder: "Sou o CEO do Banco Kwanza Invest em Angola, vivo no país há nove anos, represento os interesses do Banco Kwanza Invest e não posso falar de outras instituições."
Outro fundo
Marcel Krüse confirmou, no entanto, que o Banco Kwanza Invest está envolvido na gestão de um outro fundo público, o Fundo Ativo de Capital de Risco Angolano (FACRA), uma entidade pública criada em junho de 2012.
"Sobre o FACRA posso falar: Trata-se de um fundo criado pelo Estado angolano e nós gerimos esse mesmo fundo", explicou Krüse. "Nós candidatámo-nos à gestão desse fundo. Somos um entre 23 bancos, mas os únicos especializados em 'investment banking' [banca de investimento]. O nosso cliente, o Estado angolano, é da opinião que todos os outros bancos teriam conflitos de interesses e que nós seríamos os melhores posicionados para prestar esse serviço."
Ações de "Zédu" dos Santos
O lançamento do FACRA aconteceu de forma discreta, ao contrário do Fundo Soberano de Angola que foi lançado, com pompa, em outubro do ano passado. Afirmava-se, então, que esse Fundo ajudaria a preservar a grande riqueza de petróleo para usufruto das gerações futuras.
Mas o facto do filho do Presidente angolano ter sido nomeado um dos gestores do Fundo Soberano gerou severas críticas por parte da imprensa internacional, tendo, por exemplo, o Wall Street Journal escrito um artigo com o título: "Fundo Soberano de Angola é um negócio de família".
Será que José Filomeno dos Santos já vendeu as suas ações que tinha no banco Kwanza Invest, como anunciara em outubro aquando da sua nomeação para gestor do Fundo Soberano? O diretor-executivo do Banco Kwanza Invest não confirmou que essa venda tenha, de facto, acontecido.
"José Filomeno anunciou no ano passado que iria vender os seus 'shares' no banco, depois de ter aceite o posto de administrador do Fundo Soberano do petróleo", disse Marcel Krüse. "Penso que a venda da sua participação no banco se irá concretizar ainda no decorrer deste ano, com alguma brevidade. Por isso, penso que esta questão ficará resolvida em breve.“
Perguntas sem resposta
Ficaram por responder, entre outras, as seguintes perguntas: O que qualifica Marcel Krüse para a gestão do Banco Kwanza Invest, e nessa qualidade, para a gestão do Fundo Ativo de Capital de Risco Angolano (FACRA), para além da sua proximidade com o filho do Presidente de Angola? Outra pergunta: Como explica ao público angolano o facto de ter sido acusado e condenado, por um tribunal suíço em dezembro de 2012, por má e abusiva gestão de um outro fundo que geria na Suíça?
Perguntas que Marcel Krüse recusou responder.