Futuro do MDM depende do "traquejo e estratégia" de Simango
6 de dezembro de 2021Lutero Simango foi eleito na madrugada deste domingo, (05.12), o novo líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Simango venceu Silvério Ronguane como cerca de 88% dos votos. Já José Manuel decidiu retirar-se da corrida.
Em entrevista à DW África, o analista Dércio Alfazema, Diretor de Programas do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), disse que teme pelo fim do projeto MDM caso o partido não se una.
DW África: Simango sucede a Simango. Lutero sucede ao irmão Daviz Simango, falecido em fevereiro passado. O MDM é um partido que pertence a uma família só? Estamos perante um caso de compadrio familiar, como dizem alguns críticos?
Dércio Alfazema (DA): Há várias interpretações, mas, pessoalmente, parece-me que o facto de ser uma família de políticos não tem, necessariamente, que significar que um irmão ou um dos parentes tem de ficar com os seus direitos políticos limitados. Pelo contrário, cada um está a fazer o seu percurso, a fazer a sua história e coincide o facto de simplesmente serem irmãos. A questão central aqui que precisamos ver é se o Simango que foi agora eleito tem capacidades, condições e se reuniu requisitos para participar deste processo e exercer o seu direito de eleger e ser eleito. Parece-me que quanto a isso, e no entendimento dos membros do MDM, é que ele reunia requisitos para ser a pessoa que pode levar o MDM a bom porto.
DW África: Os desafios do MDM - a curto e médio prazo - são muitos e nada fáceis... Todos os observadores concordam. Certo?
DA: Essa é que, para mim, deve ser a questão central. O partido está numa fase não tão boa, se olharmos para a crise que vem enfrentando desde 2014, a questão dos resultados, do ambiente interno, também a questão da desintegração do próprio partido, quadros séniores que foram migrando para outros partidos. E também, outro grande desafio para Simango, tem que ver com a questão de travar essa saída massiva de quadros, sobretudo olhando para o ambiente tenso e de grande desconfiança em que decorreu o congresso.
DW África: A tão apregoada unidade interna do partido, após este congresso tenso, está, de facto, assegurada como afirmaram o candidato vencedor mas também o segundo classificado, Silvério Ronguane?
DA: É preciso que os diferentes grupos que apoiavam os candidatos sejam agora chamados para que o partido se una porque, caso contrário, vai ser muito provavelmente o fim do projeto MDM.
DW África: O MDM ainda está "vivo" e pode dar esperança ao povo?
DA: É um partido que ainda pode servir de alternativa, aliás, ainda é uma alternativa, porque é um projeto que está em marcha. Atravessou uma fase menos boa mas tudo agora vai depender do traquejo, entrega e a estratégia que vai usar o novo líder. Mas o líder também não trabalha sozinho daí insistirmos na ideia de que ele precisa unir, imediatamente, o partido, a começar por aqueles que apoiavam cada um dos 3 grupos.
DW África: Houve um candidato, José Domingos, até à data secretário-geral do MDM, que desistiu pouco antes da votação. Isso vai deixar marcas, cicatrizes?
DA: Estamos a falar de um grupo que era liderado pelo secretário-geral, a pessoa que, até alguns minutos antes do fim do congresso era o responsável máximo do partido. Não foi até final do congresso, saiu de uma forma desconfortável, emitiu uma mensagem de que não estava satisfeito. E essa pessoa tem alguma palavra a dizer se olharmos, sobretudo, para o facto de José Domingos tinha um apoio significativo do nucleo duro do partido baseado na cidade da Beira. Portanto, uma possível rutura deste grupo com o MDM poderá também, de alguma forma, significar um quase fim desse projeto.
DW África: Falando da figura de Lutero Simango, do seu historial, há notícias que circulam nas redes sociais que dizem que ele foi fundador de outro partido e que ainda era membro desse partido. Estas acusações têm algum fundamento?
DA: Se olharmos para a tendência atual do ativismo político em Moçambique, o que está a acontecer essencialmente é isso. Nós temos deputados que estavam numa bancada num mandato e num próximo já passavam para outro. Essa questão de migração, de saída de um partido para outro, começa a ser algo mais comum, no nosso contexto, mas é preciso também compreender até que ponto isso não contraria a lei dos partidos políticos e não leva a uma situação de ilegalidade. Até porque estamos a falar de atores políticos que têm uma responsabilidade de zelar pelo cumprimento da lei.