Futuro risonho para smartphones em África leva jovens a inovar
18 de outubro de 2012Cerca de 10% das crianças que nascem no Uganda morrem antes de completarem 5 anos, segundo estimativas do Banco Mundial. As mulheres grávidas têm bastantes dificuldades em aceder a cuidados de saúde. Estima-se que há apenas uma parteira para cada 5000 grávidas no país. Muitas delas têm de andar grandes distâncias para se deslocarem à clínica mais próxima.
Para ajudar a combater o problema, o programador de software Aaron Tushabe e a sua equipa desenvolveram uma aplicação para smartphones chamada WinSenga. A aplicação mede o batimento cardíaco de bebés que ainda estão no ventre das mães.
“Não queremos que esta aplicação resolva os problemas apenas hoje. Queremos tornar esta solução viável para o futuro”, diz Tushabe. “Por isso usámos o smartphone como plataforma.”
A WinSenga usa um estetoscópio de Pinard – um instrumento parecido a uma corneta acústica. As parteiras usam estes estetoscópios há mais de um século para ouvir os batimentos cardíacos do feto.
A equipa modificou a corneta introduzindo um microfone no seu interior, que se liga, por sua vez, a um smartphone. A parteira coloca a corneta na barriga da mulher grávida, carrega num botão e o batimento cardíaco do feto aparece no visor do telemóvel.
Mobilidade
A aplicação recebeu este ano um galardão da Microsoft, que premeia inovações do sul e do leste africano. Mas a equipa diz que são precisos mais testes no terreno para que a aplicação possa ser implementada definitivamente.
Aaron Tushabe espera que a WinSenga possa substituir ecografias caras, sobretudo em zonas onde não há eletricidade.
“Estamos a passar de um dispositivo que era fixo e não funcionava sem eletricidade para um dispositivo que é móvel e tem uma bateria, mesmo que dure apenas 5 a 10 horas”, refere.
Com um dispositivo móvel, as parteiras poderiam em breve dar assistência médica em áreas remotas.
"As pessoas estão interessadas"
Em África, o número de pessoas que utilizam telemóveis tem subido constantemente. A empresa de consultoria Gallup diz que cerca de 57 por cento dos adultos em 17 países da África Subsaariana tem um telemóvel. Ao todo fazem parte da região 48 países.
A maioria dos africanos considera os smartphones demasiado caros. Mas Aaron Tushabe está confiante que o número de utilizadores vai aumentar:
“As comunidades aqui em África têm recebido bem os smartphones, sobretudo os jovens.”
Henry Addo, um programador do Gana que trabalha para a empresa de tecnologia sem fins lucrativos Ushahidi, concorda.
“Se uma empresa se focar na produção de smartphones realmente baratos para a África Subsaariana, essa empresa vai fazer muito dinheiro, porque as pessoas estão interessadas nisso”, diz Addo.
Os preços estão mesmo a baixar. Em 2011, a operadora de telecomunicações queniana Safaricom fez uma parceria com a fabricante de telemóveis chinesa Huawei para produzir um telefone Android que custa 80 dólares.
Mais conectividade
Mas o preço não é o único problema.
Erica Kochi, especialista em inovações tecnológicas da UNICEF, diz que os fabricantes terão de aumentar significativamente a duração da bateria dos smartphones se quiserem atingir o seu pleno potencial em África. Além disso, diz Kochi, os telefones terão de ser mais robustos e fáceis de reparar.
“Se estes desafios forem ultrapassados, haverá futuro", refere. "Há uma grande procura, não só de conectividade e comunicação, mas também de acesso a conteúdo mais rico e a informação.”
O futuro está à espreita. No Uganda, a UNICEF quer ajudar o programador Aaron Tushabe e a sua equipa na fase de implementação do sistema de monitorização dos batimentos cardíacos do feto.
Autor: Guilherme Correia da Silva
Edição: António Rocha