Fábrica em Moçambique não vai só empacotar anti-retrovirais
26 de julho de 2012A primeira fábrica de remédios pública de África, inaugurada a 21 de julho e instalada na capital Maputo, vai atender inicialmente cerca de um milhão e meio de infetados pelo HIV/SIDA em Moçambique.
O total do projeto de construção da fábrica foi estimado em 80 milhões de euros, divididos entre o governo brasileiro e empresas privadas, a exemplo da empresa mineira ‘Vale’. O projeto de cooperação entre Moçambique e Brasil deve gerar aproximadamente 100 novos postos de trabalho.
O programa está sendo desenvolvido a partir da ajuda do Brasil que tem basicamente duas tarefas: treinar pessoal e transferir tecnologia.
Hayne Felipe é o diretor do Instituto de Tecnologia e Fármacos, a Farmanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz, ligada ao governo brasileiro. Ele explica que a parceria já tem resultados positivos:
"Nós construímos uma fábrica idêntica da nossa, em dimensão menor. No entanto, os medicamentos são os mesmos, os fabricantes são os mesmos, para que eles possam ver aqui conosco o que está sendo feito. Ao chegarem a Moçambique, vão poder reproduzir o que fazemos aqui", diz.
O Brasil deverá acompanhar o processo até 2014, segundo Felipe, "para que [os moçambicanos] tenham segurança de que vão administrar a fábrica autonomamente."
Programas de formação
De acordo com o pesquisador, o treinamento de pessoal já começou.
"Nós já tivemos aqui a estadia de técnicos moçambicanos, que ficam aqui conosco de 30 a 45 dias numa espécie de estágio na nossa fábrica. Eles são capacitados, tanto na teoria como na prática, nas atividades que eles estão contratados para desenvolver na fábrica. Por exemplo, o responsável pelo controle de qualidade veio até aqui, recebeu capacitação teórica e, ao mesmo tempo, vivenciou conosco os testes e todas as atividades que o controle desempenha aqui e que serão rebatidas lá", refere.
Cooperação com Ministério
O acordo entre os dois países prevê a transferência de tecnologia de 21 medicamentos, sendo 6 deles anti-retrovirais, a serem usados dentro do programa de combate à SIDA do governo moçambicano.
Os demais serão utilizados em outras classes terapêuticas ainda a ser definidas pelo governo de Moçambique: "Os outros 15 serão medicamentos decididos em comum acordo com o Ministério da Saúde de Moçambique em função da sua necessidade, tendo em vista o quadro epidemiológico, o nível de importância da doença para o Ministério da Saúde de lá."
Produção já em 2013
Passada a primeira fase, que cuida de embalar os medicamentos produzidos no Brasil, a unidade pretende avançar gradualmente para a produção local, o que deve acontecer até o meio do ano que vem, segundo o representante do governo brasileiro, o farmacêutico Hayne Felipe:
"Trata-se de ir de trás para frente, até chegar à própria compra dos insumos [componentes dos medicamentos] e fazer a produção. Nós imaginamos esse mecanismo de capacitação. Junto com a capacitação para as outras atividades – o controle de qualidade, a parte gerencial, a armazenagem ou o gerenciamento de pessoas. Nós queremos capacitar os técnicos moçambicanos para tudo isso. A nossa estimativa é que, até ao fim do primeiro semestre de 2013, nós já estejamos com essa etapa terminada."
Autora: Camila Campos (Belo Horizonte)
Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha