"África já é verde, só precisa de ser mais verde"
23 de abril de 2021A culminar a semana em que se comemora o Dia da Terra, a capital portuguesa, Lisboa, recebeu esta sexta feira, (23.04), o Fórum de Investimento Verde UE-África organizado pela Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia e o Banco Europeu de Investimento.
Em debate esteve o futuro verde de África, com foco nas novas vias de investimento para um desenvolvimento inclusivo sustentável.
A ambição de transição para uma África mais verde requer financiamento - ainda modesto no continente -, e o envolvimento do setor privado constitui ainda um desafio, uma vez que essa adaptação não resulta automaticamente em lucro.
A tese foi defendida pelo economista guineense Carlos Lopes, o Alto Representante da União Africana para as Parcerias com a Europa, durante a sua intervenção no painel sobre modelos de negócios lucrativos, verdes e sustentáveis.
"Ao abrigo do acordo de Paris foi feito um compromisso para alcançar um objetivo de 100 mil milhões de dólares por ano para financiar a adaptação dos países em desenvolvimento. Grande porção desse montante seria investido em África, mas nós estamos muito longe destes números de tal maneira que se questiona se este compromisso ainda existe no sentido de alcançarmos o objetivo ou se foi só uma afirmação", explicou.
Contrassenso em África
Durante a sua apresentação, Werner Hoyer, Presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), enfatizou a "realidade injusta" de África lembrada, também no Fórum, por Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros português.
Ao mesmo tempo que o continente é um dos mais vulneráveis aos efeitos imediatos das alterações climáticas, é responsável por uma das mais baixas emissões de gás com efeito de estufa per capita.
Questionado pela DW sobre a viabilidade da transição em África rumo a um futuro verde, João Mosca, investigador do Observatório do Meio Rural, em Moçambique, defende que para que África seja uma reserva fundamental do ambiente, os que contaminam deviam pagar.
"Se África é destinada um papel conservacionista do ambiente, então deve receber por isso e deve exigir também formas e padrões de desenvolvimento amigas do ambiente. Isso não está a acontecer. É preciso que os programas sejam discutidos nas suas diferentes perspetivas, na sua globalidade e fazendo com que a discussão e as conclusões sejam tão equitativas e favorecedoras de todas as partes envolvidas", argumenta.
Investimento de 5 mil milhões de euros
O Banco Europeu investiu em África, em 2020, o valor recorde de cinco mil milhões de euros. O montante será reforçado num novo financiamento de 350 milhões de euros para promover o acesso à energia verde e à água potável no continente.
Um dos objetivos do encontro foi mostrar como modelos de negócios sustentáveis podem ser lucrativos e competitivos. Nesse sentido, Akinwumi Adesina, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, destacou o papel do setor privado e lançou o repto a mais investimento.
"Está claro que grandes oportunidades para investimento sustentável existem em África, hoje e no futuro. África já é verde, só precisa de ser mais verde. Precisamos de mais euros para apoiar o crescimento verde no continente. E não pensem que não podem fazer negócio em África, pensem antes nas oportunidades que estarão a perder se não o fizerem", sublinhou.
O Fórum de Investimento Verde UE-África juntou líderes políticos, setor privado e representantes da sociedade civil europeus e africanos. Antevê a próxima cimeira União Africana /União Europeia, adiada em 2020, e que permanece, para já, sem data marcada.