Gâmbia à espera do Presidente Adama Barrow
26 de janeiro de 2017O anúncio do regresso de Adama Barrow à Gâmbia foi feito pelo porta-voz do novo chefe de Estado, Halifa Sallah: "Há dois dias, ele disse-me que estaria aqui na quinta-feira (26.01)".
Segundo o porta-voz, antes de voltar ao país, o novo Presidente quis "agradecer às pessoas que contribuíram para resolver a disputa política na Gâmbia, em paz", e realizar consultas. "Ligou-me na noite passada e disse que decidiu finalmente voltar às 16:00 de quinta-feira", revelou.
Uma força regional da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) tem estado a garantir a segurança em Banjul, capital da Gâmbia, para o regresso de Adama Barrow.
O chefe de Estado pediu que as tropas se mantenham na Gâmbia durante seis meses, mas ainda não é claro se os líderes da CEDEAO vão aprovar a operação.
Barrow refugiou-se no Senegal, depois de o seu antecessor, Yahya Jammeh, ter recusado aceitar a sua vitória nas presidenciais de dezembro. Jammeh, que esteve 22 anos no poder, partiu para o exílio na Guiné Equatorial, no sábado (21.01), sob forte pressão internacional.
Nova era Gâmbia-Senegal?
Nos últimos dias, muitos observadores têm questionado a longa estadia de Adama Barrow em Dakar. Thomas Volk, da Fundação Konrad Adenauer, no Senegal, considera que se trata de uma questão de segurança, lembrando que muitos militares fiéis a Yahya Jammeh têm de ser convencidos de que Barrow foi eleito Presidente.
Certa, dizem os analistas, é a renovação das relações entre a Gâmbia e o Senegal nos próximos tempos, após a intervenção de Dakar na resolução da crise política gambiana.
Até agora, a relação entre Yahya Jammeh e o seu homólogo senegalês, Macky Sall, foi sempre complicada.
"A Gâmbia viveu uma ditadura brutal, com violações dos direitos humanos e uma situação que levou quase um em cada dois gambianos a deixar o país", explica Thomas Volk. "Já o Senegal é uma âncora de estabilidade na África Ocidental, um país exemplar que evoluiu no sentido de uma democracia estável", sublinha.
Conflito de Casamança
Desde a separação dos dois países que a relação é tensa entre a Gâmbia e o Senegal. Segundo historiadores, Dakar sempre se ressentiu da separação do território. E a contribuir para a tensão esteve o conflito na região senegalesa de Casamança, onde os rebeldes lutam desde a década de 80 pela independência. Muitos observadores alegam que Yahya Jammeh forneceu armas aos rebeldes.
O porta-voz do novo chefe de Estado gambiano, Halifa Sallah, admite que o conflito na fronteira com a Gâmbia se agravou sob a liderança de Jammeh. Mas ressalva que "se tivesse havido um grande desenvolvimento em Casamança, o problema já estaria resolvido, independentemente de Jammeh querer influenciar o processo de alguma forma."
Ainda assim, com a saída de Yahya Jammeh, vários analistas consideram que o Senegal espera resolver a crise em Casamança.
E embora as relações ao nível da administração tenham sido extremamente difíceis sob o Governo de Jammeh, as populações dos dois países sempre se viram como um povo, diz Halifa Sallah, frisando que senegaleses e gambianos partilham a mesma cultura. O porta-voz do novo Presidente espera que as relações entre a Gâmbia e o Senegal melhorem muito com a Presidência de Adama Barrow.
Antes disso, diz Thomas Volk, da Fundação Konrad Adenauer, no Senegal, é preciso trabalhar ao nível interno: "É altura de olhar para a frente, restaurar a unidade do país e entrar numa nova era de sucesso para a pequena Gâmbia."