"Governo de gestão": para Dhlakama é a solução, para Guebuza seria sinal de anarquia
5 de dezembro de 2014Afonso Dhlakama tem dito e repetido que um governo de gestão, constituido por membros da FRELIMO e da RENAMO, seria uma forma de satisfazer as exigências do eleitorado, que foi a votos em outubro último. Quer isto dizer que o líder do maior partido da oposição se apoia, alegadamente, na vontade do povo, que o tem recebido em massa e de braços abertos, o que ficou bem claro nas suas últimas aparições públicas, durante o périplo que está a fazer pelo centro e norte do país.
Eleições de 15 de outubro foram fraudulentas, afirma lider da RENAMO
No périplo pelo seu reduto, onde conseguiu a maior parte dos votos, Afonso Dhlakama tem, de facto, reunido um "mar de gente". Depois de Chimoio e Tete, no centro, o líder da RENAMO visitou o norte do país, onde já fez comícios em Nampula e Nacala. E a palavra de ordem de Dhlakama continua a ser a mesma: nas suas palavras, a RENAMO não quer desapontar o seu eleitorado: "Esta população está preocupada. Eu estou a prometer que vamos criar um governo de gestão. Essa gente não quer saber do governo de gestão, quer que eu – Dhlakama – seja presidente da República, quer que eu entre já no palácio."
Partilha de poder seria um ato de anarquia, afirma FRELIMO
Por seu lado, a FRELIMO, o partido no poder, rejeita categoricamente o desejo da RENAMO, justificando que se trata de uma inconstitucionalidade. Armando Guebuza, o Presidente em exercício, deixou claro que a RENAMO não respeita o jogo democrático, ao apresentar a proposta de constituição de um "Governo de gestão". Guebuza sublinha, nomeadamente que "os resultados eleitorais permitem ver, quem é preferido pela população. E esse preferido é o candidato da FRELIMO. Quando chegamos ao fim de um processo eleitoral verificamos que há um partido que ganhou. Mas o partido que perdeu não gosta e pede um Governo de gestão." Guebuza conclui: "Isso é sinal de anarquia!"
RENAMO ameaça dividir o país
Prossegue o braço de ferro. A RENAMO promete não deixar o partido no poder governar sozinho. Ao mesmo tempo, em Nampula, Afonso Dhlakama prometeu não voltar aos confrontos militares, como forma de pressão. Por outro lado, deixa claro que existe o perigo de se "dividir o país, pois o partido teve mais votos que a FRELIMO na maior parte das regiões do centro e norte." Estas regiões são, por sinal, as mais ricas em termos de recursos naturais e polos de desenvolvimento económico. Apesar das partes terem chegado a acordo sobre o fim dos confrontos em setembro último e as eleições terem acontecido, ainda se mantêm alguns contenciosos. A composição do exército e polícia é um deles, um consenso tarda em chegar apesar dos sucessivos encontros.
Como ultrapassar o impasse?
Face ao endurecimento dos discursos e à resposta do Conselho Constitucional que cenários se podem prever? O analista político Silvério Ronguane responde: "Até agora estamos a falar de uma tensão verbal . Esta semana a Associação dos Antigos Combatentes da Libertação Nacional, ligada a FRELIMO, que é o grupo mais violento, já vem também dizendo que não tolera que a RENAMO fale de Governo de gestão. Quer dizer que as posições estão extremadas neste momento e isso indica-nos contornos imprevisiveis. Neste momento tudo está em aberto."
Silvério Ronguane termina a sua análise, fazendo votos "para que isso não degenere em violência e sofrimento. Não se sabe quais são os contornos e muito menos não se sabe muito bem como se vai sair disto."