Governo moçambicano não quer dialogar com a RENAMO
21 de janeiro de 2015
O maior partido da oposição, a RENAMO, pretende ainda envolver diplomatas no caso, mas o Governo minimiza a pressão. A decisão de uma conversação com o Governo surgiu depois de um encontro de alto nível da RENAMO, em Caia, província central de Sofala na última terça-feira (20.01).
A reunião, que juntou também os 89 deputados que boicotaram a investidura do novo Parlamento, visava discutir a estratégia futura do maior partido da oposição em Moçambique, que continua a exigir a formação de um Governo de gestão, sob ameaça de criar uma república autónoma no centro e norte do país.
Sobre o finca-pé relativo ao Governo de gestão, a DW África entrevistou o porta-voz da FRELIMO, Damião José, que começou por definir os limites de abertura do diálogo.
DW África: O Governo da FRELIMO está aberto a iniciar esse diálogo?
Damião José (DJ): O Governo de Moçambique e a FRELIMO sempre estiveram abertos ao diálogo, não só com a RENAMO, mas também com todas as forças vivas da sociedade, porque para a FRELIMO o diálogo é o caminho ideal para a inclusão dos moçambicanos no projeto de desenvolvimento do nosso país. Agora, em relação ao dito Governo de gestão, o nosso Governo e a FRELIMO não encorajam que se promovam encontros para discutir questões que ponham em causa a Constituição da República e as demais leis. Portanto, a FRELIMO e o Governo de Moçambique defendem e estão abertos ao diálogo, mas um diálogo para tratar de assuntos que tem a ver com o bem estar do povo moçambicano e não para falar de assuntos que possam pôr em causa o cumprimento e o respeito da Constituição da República e não obedecer as leis que nós mesmo aprovámos. Só para dizer que para a FRELIMO o Governo de gestão está fora de hipótese.
DW África: Então quer dizer que o Governo da FRELIMO não vai aceitar um diálogo com a RENAMO se o tema for Governo de gestão?
DJ: Exatamente isso. E as razões, como dizia anteriormente, são muito claras. Falar de Governo de gestão é falar de anarquia do Estado.
DW África: A oposição queixa-se da falta de inclusão neste Governo, algo que o Presiente Filipe Nyusi tinha prometido na sua tomada de posse. Como o Governo pensa fazer essa inclusão de forma a satisfazer os anseios da oposição?
DJ: Quando a oposição se queixa da inclusão no novo Governo, se calhar percebe o sentido de inclusão numa visão muito pequena, que seria, por exemplo, convidar membros da oposição a fazerem parte do Governo. Mas a visão da FRELIMO e do Governo de Moçambique sobre a questão da inclusão não é nesse sentido. Nós como moçambicanos, partido FRELIMO e Governo de Moçambique, precisamos de ouvir e, nalguns momentos, acolher as ideias construtivas de todos os moçambicanos. Não corresponde a verdade quando se diz que não está a ser posta em prática a ideia da inclusão defendida pelo camarada Presidente Filipe Nyusi. Ela está a ser posta em prática, só que para nós não teria nenhum sentido que um membro da oposição, que tem um programa e filosofia de trabalho diferente da FRELIMO, viesse a aceitar todas orientações e decisões da direção máxima da FRELIMO. Não sabemos se isso seria possível.
DW África: Voltando à questão do Governo de gestão. A RENAMO pretende envolver diplomatas neste assunto. O Governo da FRELIMO resisitiria a essa pressão?
DJ: Aqui não se trata de resistir ou não às pressões. O que existe é o comprometimento e a responsabilidade que a FRELIMO tem em cumprir com as leis existentes no nosso país. Se tudo estiver em consonância com as leis, a FRELIMO está sempre aberta ao diálogo. Agora, aquilo que vier a contradizer a Constituição da República, naturalmente isso não é acolhido. A FRELIMO não encoraja e naturalmente o Governo de Moçambique também não acolherá qualquer ideia do género.