Grande ofensiva do exército nigeriano contra o Boko Haram
23 de fevereiro de 2015Na passada terça-feira (17.02), habitantes de Abadam, uma pequena aldeia no Níger, na fronteira com a Nigéria, reuniram-se na mesquita local para dizer adeus a um idoso que tinha acabado de morrer.
Pouco depois, houve uma explosão. A mesquita foi bombardeada por um caça. Segundo testemunhas, tratava-se de um avião da Nigéria. Acusação que, entretanto, o Governo nigeriano negou.
Morreram 36 pessoas, todas civis, neste ataque que se presume ter sido levado a cabo pelo Boko Haram. Kola Banwo, da organização de defesa dos direitos humanos Cislac, explica que na guerra contra o grupo radical islâmico há cada vez mais civis apanhados na linha de fogo.
"Nas notícias só ouvimos que foram mortas 500 pessoas. Ninguém nos diz quem são essas pessoas", lamenta. Segundo Kola Banwo, muitas vezes são atacadas aldeias, "onde há insurgentes que se misturaram com a população civil". Vivem entre os habitantes dessas aldeias, por vezes ocupam até as suas casas, conta. "Muitos civis não têm escolha. Têm sido mortas muitas pessoas inocentes, não há dúvida."
Ofensiva militar em andamento
O Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, prometeu que nas próximas semanas iria "limpar" o norte da Nigéria de radicais islâmicos. A ofensiva militar está em pleno andamento e conta com a participação dos Camarões, do Chade e do Níger.
As Forças Armadas lançaram ataques-relâmpago contra aldeias e cidades para surpreender os insurgentes e expulsá-los dos seus redutos.
Dia após dia, multiplicam-se as histórias de sucesso dos líderes do exército. Os Camarões reclamaram a morte de 86 combatentes, o Governo do Chade contou 117 mortos e a Nigéria fala em 300 islamistas mortos durante uma operação.
Também foram anunciadas detenções. O Níger diz ter 160 pessoas sob custódia, os Camarões mais de mil. Mausi Segu, da organização internacional Human Rights Watch na Nigéria, diz que é difícil verificar a veracidade do que é anunciado.
A investigadora conta que desde o início da ofensiva ainda não teve oportunidade de falar com testemunhas e que é impossível entrar na zona de batalha. Os ativistas de direitos humanos não receberam autorização para lá chegar, explica.
Operações pouco transparentes
Além disso, "há operações militares que estão a ser realizadas no nordeste na Nigéria de forma opaca. A falta de transparência é preocupante", sublinha Mausi Segu.
A investigadora lembra ainda que o exército chadiano tem sido repetidamente acusado de violações dos direitos humanos. "O exército nigeriano junta-se, assim, a um exército que tem uma história duvidosa no que diz respeito ao tratamento de civis. Por isso, apelamos à protecção dos civis e à diferenciação entre civis e combatentes."
Nos Camarões, o grupo de defesa dos direitos humanos REDHAC fez soar o alarme. Acusou o exército camaronês de ter intimidado e cometido abusos contra muitos civis para obter informações.
Segundo a organização, cerca de 50 pessoas foram presas numa cela para interrogatório, onde viriam a morrer asfixiadas. Depois, os seus corpos foram enterrados numa vala comum no meio do mato. O porta-voz do exército camaronês escusou-se a fazer comentários sobre o caso.