Greve de taxistas em Angola: TPA manipulou imagens?
13 de janeiro de 2022Luther Campos é conhecido pelos vídeos que publica nas redes sociais, onde muitas vezes denuncia a situação social do país, dirigindo críticas diretas ao partido no poder, o MPLA. O jovem militante da UNITA, o maior partido da oposição, está detido, confirma o porta-voz do Serviço de Investigação Criminal (SIC), Manuel Alaiwa.
O facto aconteceu após Televisão Pública de Angola (TPA) o ter associado aos supostos autores da revolta popular que terminou com a destruição da sede do MPLA no distrito urbano do Benfica, em Luanda, durante a greve dos taxistas na segunda-feira (10.01).
Mas um dia antes da detenção, o jovem, falando à Rádio Despertar, garantiu: "Passei o dia todo em casa. Não saí de casa. Fiquei pasmo com as ligações de pessoas a dizerem que fui apresentado na televisão a queimar autocarro. Aquela imagem é de 2020 quando fomos torturados pelo MPLA. É a imagem que está passar. Eu não pertenço a ANATA".
E Luther Campos aponta o dedo acusador ao partido no poder: "O MPLA está a manipular imagem. Dá para ver que aquilo tudo é algo premeditado. O próprio o MPLA queimou o seu próprio comité, queimou o autocarro para criar instabilidade nas eleições".
O jovem, também conhecido como Luther King, acusou ainda a TPA de manipular a imagem de uma manifestação realizada há dois anos.
Falta de diálogo
A detenção comoveu a sociedade angolana que prevê um processo inquinado, face aos pronunciamentos do líder do MPLA em Luanda, Bento Bento, e também do Presidente da República, João Lourenço. O coordenador da ONG Projeto Agir, Fernando Sakuayela, considera intimidação a detenção do militante da UNITA.
"Configura, em nosso em entender, um gesto de sonegar a cidadania, mas também decorre de uma preocupação por parte de quem detém o poder. Enquanto assistimos nos últimos dias a greve dos taxistas, a TPA terá feito a manipulação de uma das imagens de Luther King na manifestação de 2020 e associou com ato que acabamos de assistir", argumenta.
Os acontecimentos de 10 de janeiro, segundo Sakuayela, são o resultado da falta de diálogo entre o Governo e os taxistas: "Para o caso vertente, passa fundamentalmente pelo diálogo entre os atores diretos. Não precisamos envolver os ativistas neste conflito entre o Governo e os taxistas".
Credibilidade do Governo em causa
Sobre a detenção do seu militante, a UNITA, que já negou as acusações do MPLA crítica mais uma vez a atuação da imprensa estatal. O líder do grupo parlamentar do galo negro, Liberty Chiaka, entende que estes atos põem em causa a credibilidade do Governo e promete: "Vamos continuar a defender a justiça, a verdade, sobretudo defender um jornalismo isento, imparcial, responsável, que trate igual e que não manipule a verdade".
"Os jornalistas não precisam criar factos, jornalistas noticiam em função da realidade. Mas quando temos de cozinhar algumas situações, algo não está bem", acrescenta.
Entretanto, o Tribunal de Comarca de Luanda continua a julgar sumariamente cidadãos que alegadamente participaram dos atos vandalismo durante a paralisação dos serviços de táxis. O presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas, Francisco Paciente, denuncia maus-tratos contra os seus colegas nas celas da Polícia Nacional.