Ucrânia: África do Sul reitera posição "não-alinhada"
15 de maio de 2023"A realidade é que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia e as tensões que lhe estão subjacentes não serão resolvidos por meios militares. Ele deve ser resolvido pacificamente", disse Cyril Ramaphosa, em comunicado.
Segundo o chefe de Estado, a África do Sul procura com esta posição neutral "contribuir para a criação de condições que tornem possível uma resolução duradoura do conflito", uma posição que em momento algum "favorece a Rússia em detrimento de outros países".
E também não quer pôr em causa as relações com outros países, acrescenta: "De acordo com a nossa posição relativamente a outros conflitos noutras partes do mundo, a África do Sul acredita que a comunidade internacional deve trabalhar em conjunto para conseguir urgentemente a cessação das hostilidades e evitar mais perdas de vidas e deslocações de civis na Ucrânia."
Ramaphosa disse ainda que teve reuniões com o Presidente norte-americano, Joe Biden, e com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, para confirmar a posição de não-alinhamento da África do Sul.
Desde o início da guerra na Ucrânia, a África do Sul tem estado "sob uma pressão extraordinária para abandonar a sua posição de não-alinhamento e tomar partido no que é, de facto, uma disputa entre a Rússia e o Ocidente", recordou ainda o Presidente sul-africano.
"Continuaremos a resistir aos apelos de qualquer lado para abandonar a nossa política externa independente e não-alinhada", acrescentou.
A posição de neutralidade da África do Sul não está apenas ligada ao papel político e económico estratégico de Moscovo em alguns países africanos, mas também a razões históricas, como o apoio da Rússia aos movimentos anticoloniais e à luta contra o regime do apartheid.
O navio da polémica
A polémica surgiu depois de o embaixador dos Estados Unidos na África do Sul, Reuben Brigety, ter afirmado, numa conferência de imprensa em Pretória, que o país africano forneceu armamento à Rússia através do navio russo Lady R, que atracou na base naval de Simon's Town, na Cidade do Cabo, em dezembro de 2022.
"Armar os russos é extremamente grave. E não consideramos que este problema esteja resolvido. E gostaríamos que a África do Sul praticasse a sua política de não-alinhamento", sublinhou o diplomata.
Na semana passada, Cyril Ramaphosa disse que o seu Governo está a investigar as alegações do embaixador americano. "Estamos cientes das notícias que envolvem o navio. O assunto ainda está a ser analisado", disse apenas. A oposição não ficou satisfeita com esta resposta.
Relações diplomáticas tensas
John Stupart, especialista em defesa do Africadefence.net, fala de um novo nível de acusações. "A alegação é muito séria. Os EUA não fazem esta acusação de ânimo leve através dos canais diplomáticos. Cabe à África do Sul dar respostas", sublinha.
As relações diplomáticas entre os EUA e a África do Sul estão cada vez mais tensas. Moeletsi Mbeki, diretor do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, fala de uma crise de liderança no país.
"O verdadeiro problema é que o Presidente não tem controlo sobre o seu governo. Parece-me que Cyril Ramaphosa não controla o seu gabinete", acrescentou o especialista.
Entretanto, o embaixador dos EUA já disse que as suas palavras foram mal interpretadas. Reuben Brigety REVELOU que já falou com a ministra das Relações Internacionais e da Cooperação sul-africana, Naledi Pandor, para "corrigir qualquer má interpretação deixada" pelos seus "comentários públicos".