Guiné-Bissau: "A remodelação no Governo só satisfaz Sissoco"
21 de agosto de 2024No novo elenco do executivo de iniciativa presidencial, apresentado ontem ao público na Guiné-Bissau, há mais apoiantes do chefe de Estado Umaro Sissoco Embaló.
Até terça-feira, o governo guineense estava desfalcado. Faltavam-lhe seis membros, exonerados pelo Presidente da República. Alguns deles abandonaram o executivo devido às divergências dos seus partidos com Sissoco.
Mas muitas das figuras nomeadas esta terça-feira e movimentadas no executivo são apoiantes do chefe de Estado e membros das alas pró-Sissoco no Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15) e no Partido da Renovação Social (PRS), a segunda e terceira forças políticas.
"As nomeações políticas costumam responder a um programa governativo. Mas neste caso em concreto, estas nomeações não têm nada a ver com isto", comenta o professor universitário Fernando da Fonseca em declarações à DW.
Recompensa por "fidelidade"
O académico considera que as mexidas de terça-feira só beneficiam os interesses do Presidente da República: "São nomeações que respondem ao atual contexto político. São figuras que foram premiadas pela sua fidelidade ao Presidente da República.
Para o analista político Luís Vaz Martins, a remodelação governamental poderá deteriorar ainda mais o ambiente político, particularmente entre os apoiantes do Presidente da República.
"Muitos indivíduos próximos a Umaro Sissoco Embaló que tinham expetativas de serem nomeados ficaram de fora. Sendo assim, vai-se abrir aqui uma brecha para novas lutas internas no seio dos que decidiram, contra os interesses da Guiné-Bissau, apoiar as pretensões ditatoriais do Presidente da República", entende Vaz Martins.
Na remodelação governamental de terça-feira, destaca-se a estreia de Lesmes Monteiro no Governo, para a Secretaria de Estado da Juventude. Lesmes Monteiro é o líder do Partido Luz da Guiné-Bissau (PLGB), outro apoiante de Sissoco.
Uma questão de (falta de) democracia
O Executivo passa a contar com sete mulheres entre os seus 35 membros. O número é inferior ao que é exigido pela Lei da Paridade, que prevê uma participação mínima de 36% das mulheres em lugares de decisão.
O professor universitário Fernando da Fonseca critica a fraca presença feminina no Executivo. "Isto demonstra uma insensibilidade do Presidente da República em relação à questão do género", refere.
A remodelação no Governo de iniciativa presidencial ocorre numa altura em que se assiste a uma fragmentação em algumas das principais forças políticas da Guiné-Bissau, nomeadamente noMADEM-G15 e no PRS, que contam com duas alas e dois presidentes.
Luís Vaz Martins culpa o Presidente da República pela situação política vigente no país. "Ele pretende, em nome do segundo mandato, fazer de tudo e, de forma pouco democrática e pouco transparente, adulterar as eleições 'eliminando' os opositores políticos e controlando [todas as instituições] como controla a Comissão Nacional de Eleições (CNE)."
É por isso, conclui o analista, que se avizinham "dias negros na história da Guiné-Bissau".