Guiné-Bissau: Ambiente político aquece no MADEM-G15 e PRS
22 de fevereiro de 2024O ambiente político aqueceu no seio do Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15) e no Partido da Renovação Social (PRS) nas últimas semanas, levando analistas a temerem que a situação venha a prejudicar a realização das eleições legislativas antecipadas da Guiné-Bissau, ainda sem data marcada.
O MADEM-G15 e o PRS, a segunda e a terceira forças políticas mais votadas nas últimas eleições legislativas do país, estão mergulhados numa grave crise interna, levando a troca de acusações internamente entre os vários dirigentes das duas congregações partidárias.
No MADEM-G15, partido do Presidente Umaro Sissoco Embaló, os contestatários acusam o coordenador Nacional do partido, Braima Camará de, entre outros, transformar a formação política em ditadura. Já no PRS, um grupo de altos dirigentes exige a convocação do congresso e acusa o presidente interino, Fernando Dias, de assumir uma postura antidemocrática.
Acusações
Os dois líderes partidários negam as acusações, mas o ambiente político interno continua a adensar-se. À DW África, o professor universitário William Gomes Ferreira considera que "essas fraturas dentro das principais formações políticas do país demarcam, de forma inequívoca, a dificuldade de estabelecer um diálogo sério e honesto dentro da arena política guineense".
"Ou seja, é característica, no nosso país, a dificuldade das pessoas se sentarem à mesa de forma sincera para conversar sobre os assuntos que interessam ao povo da Guiné-Bissau", acrescentou.
De acordo com o presidente da Rede Nacional das Associações Juvenis (RENAJ), Abulai Djaura, a crise no seio dos partidos políticos guineenses não é essencial para o país.
"O que estamos a assistir é tudo menos o essencial necessário para o povo guineense, no sentido de podermos projetar o país que todos almejamos. Portanto, os partidos políticos devem tratar os seus problemas e evitar que esses problemas afetem o normal funcionamento do Estado e das suas instituições", afirmou Djaura.
Eleições legislativas
Passaram cerca de três meses desde que o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, dissolveu a Assembleia Nacional Popular. Ainda não há data para as novas eleições legislativas antecipadas, mas o chefe de Estado guineense admitiu, na quarta-feira (21.02), a realização do escrutínio ainda este ano e antes da época chuvosa, que inicia no mês de maio próximo - isso se forem criadas as condições, nomeadamente para a atualização dos cadernos eleitorais.
O professor universitário William Gomes Ferreira teme que as fraturas nos partidos políticos venham afetar a realização das eleições e beliscar a unidade nacional.
"Porque sempre que um partido político se fragmenta, seja do ponto de vista ideológico ou do ponto de vista dos principais atores, nós só temos a perder, porque não obstante a política ser, na sua essência, um lugar de conflito, é preciso reconhecermos que a política positiva exige muito mais diálogo e consenso do que as fraturas".
Dissolução do Parlamento
À espera da marcação da data para a ida às urnas, a Guiné-Bissau é dirigida neste momento por um governo de iniciativa presidencial, composto por dirigentes dos principais partidos do país, na sequência da dissolução do Parlamento em dezembro passado.
O presidente da Rede Nacional das Associações Juvenis, Abulai Djaura, apela ao fim das sucessivas instabilidades políticas na Guiné-Bissau e admite assumir uma posição caso o tenso clima político persista.
"Este país não precisa mais de instabilidade e de certos problemas que o levam ao retrocesso. Nós, enquanto juventude, não estamos preparados para continuar a lidar com esta situação", disse.
"E, se a situação se mantiver, teremos de tomar uma posição drástica em relação a ela e às crises que muita das vezes não são geridas dentro do espaço próprio e acabam por afetar o país", concluiu.