Guiné-Bissau: Frente Social retoma greve e desafia Governo
27 de maio de 2024A Guiné-Bissau enfrenta mais uma onda de greves nos setores cruciais de saúde e educação. Iniciada hoje (27.05), esta greve de cinco dias marca a terceira ação do ano conduzida pela Frente Social, que representa os sindicatos desses setores. Os trabalhadores reivindicam o pagamento de salários atrasados, melhorias nas condições de trabalho e a efetivação de técnicos.
Apesar das promessas de negociação por parte do Governo, após umareunião em abril com o Presidente Umaro Sissoco Embaló, em entrevista à DW, o porta-voz da Frente Social, Yoio João Correia, revela falhas na comunicação e ausência de convocação para encontros planejados, levando a uma retomada das paralisações.
A adesão nacional supera os 80%, colocando pressão adicional sobre o executivo para responder às demandas.
DW África: Quais foram os principais motivos que levaram a Frente Social a retomar a greve, especialmente após a reunião com o Presidente da República que resultou na suspensão da última onda de paralisações?
Yoio João Correia (YC): Uma das principais razões tem a ver com as reivindicações que estamos fazendo. Além desses problemas, no dia 10 do mês passado tivemos um encontro com o executivo com a intervenção do Presidente da República. Saímos deste encontro com o compromisso de que os ministérios envolvidos e os sindicatos deveriam colaborar para poderem trabalhar durante um mês, dando um benefício da dúvida para que voltássemos a sentar à mesa no dia 11 do presente mês.
Infelizmente, demos esse período, mas até o dia que deveria acontecer o encontro, dia 11, não fomos informados sobre o encontro, e também não houve nenhuma comunicação ou correspondência que justificasse o adiamento ou cancelamento do encontro. Ficamos decepcionados com a Presidência e com o executivo, então, sendo assim, mais uma vez ficamos sem outras escolhas e acabamos por avançar para a greve.
DW África: Como está a adesão dos profissionais de educação e saúde a esta nova onda de greve e qual o impacto nos serviços essenciais?
YC: Pela avaliação que temos, tendo em conta os contatos que conseguimos com as nossas representações regionais de educação e saúde, pode-se notar que a aderência está acima de 80% a nível nacional. Isso para nós já é um bom sinal, demonstra de certo modo um ganhar de consciência por parte dos profissionais de educação e de saúde. Também achamos que isso poderá servir de pressão ao executivo no sentido de diligenciar e para evitarmos que a greve possa chegar até sexta-feira.
DW África: O serviço mínimo está assegurado?
YC: Sim, orientamos as nossas estruturas regionais e comitês de base para que façam a valência de tentar negociar e garantir o serviço mínimo, ou seja, as emergências médicas.
DW África: Há alguma alteração no caderno reivindicativo desde as últimas negociações?
YC: É quase o mesmo, mas contudo, não podemos negar que nos últimos tempos surgiram alguns pontos que achamos importantes, por exemplo, as denúncias da Ordem dos Enfermeiros da Guiné-Bissau, em que devido ao preenchimento das vagas para o sistema de saúde, houve situações de pessoas que foram colocadas e que não têm carteira profissional.
Para nós, este assunto é grave, e nós abordamos isso com o ministério da saúde e explicamos que, caso não seja resolvido, vai ser mais um ponto acrescido. Ainda tem a questão das nomeações de diretores dos hospitais que não são da área de saúde e de outras situações na área de educação.