Guiné-Bissau: Manifestantes pedem novas eleições
5 de novembro de 2016Centenas de pessoas manifestaram-se durante a manhã deste sábado (05.11) na Avenida Amílcar Cabral, em Bissau. Gritando palavras de ordem contra o Presidente da República, José Mário Vaz, os manifestantes exigiram a convocação de eleições legislativas antecipadas, para acabar com a crise política no país, que se arrasta há 15 meses.
Sana Canté, presidente do Movimento de Cidadãos Conscientes e Inconformados (MCCI), organização que convocou a manifestação, defende que José Mário Vaz deve dissolver o Parlamento e realizar novas eleições e considera que o sistema está “bloqueado”.
Polícias e militares formaram um cordão que impediu o acesso dos manifestantes à Praça dos Heróis Nacionais e ao Palácio da Presidência. Durante a manhã, aconteceram alguns momentos de tensão entre ambas as partes, com a polícia a afastar manifestantes com gás lacrimogéneo, num protesto que aconteceu, de resto, de forma pacífica.
Para além do MCCI, associaram-se a esta manifestação o movimento “Minjderis di Guiné No Lanta” (Mulheres da Guiné-Bissau levantemo-nos) e a associação Cidadãos do Mundo, que tem defendido que o país deve ter uma gestão transitória da Organização das Nações Unidas (ONU).
“O povo não é lixo”
Os manifestantes gritaram “Basta, Jomav”, nome pelo qual o Presidente é conhecido enquanto empresário, depois de no carro de som que acompanhava a manifestação ter sido relembrada uma das intervenções do atual Presidente durante a sua campanha em 2014, onde prometia quatro anos de estabilidade política para a Guiné-Bissau.
Um ano depois de subir à presidência da República, demitiu o Governo, criando uma crise política da qual o país ainda não conseguiu sair.
"Presidente rua, Presidente rua; o povo não é lixo e abaixo a ditadura" serviu como mote à manifestação da manhã deste sábado (05.11).
Alguns dos manifestantes começaram a dispersar ao início da tarde, enquanto outros prometeram continuar cara a cara com o cordão policial.
Protesto acontece contra vontade do Governo
Na sexta-feira (04.11), o Governo da Guiné-Bissau ordenou o cancelamento da manifestação convocada pelo MCCI.
Em comunicado, o secretário de Estado da Ordem Pública, Marcelino Cabral, invoca, entre outras razões, a visita da Presidente da Libéria e da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Ellen Johnson, como um dos motivos para esta ordem de cancelamento e a realização de uma manifestação pró-Presidente, também no centro da capital guineense.
A manifestação aconteceu, ainda assim. Lesmes Monteiro, da direção do MCCI, garantiu na sexta-feira que a manifestação iria ter lugar a qualquer custo e afirmou que ninguém notificou a organização. “Temos autorização da Câmara Municipal e a promessa do Ministério do Interior em como irá garantir a segurança da nossa manifestação, pelo que vamos continuar com a nossa iniciativa”, disse à agência Lusa.
A visita da comitiva da CEDEAO liderada por Johnson realiza-se no âmbito das negociações com vista a ultrapassar a crise político-institucional do país, na sequência dos acordos de Bissau e de Conacri. A comitiva vai reunir com o Presidente da Guiné-Bissau e com outros dirigentes, para tentar encontrar uma solução para a crise no país.
Situação política confusa e sem fim à vista
A delegação chefiada por Ellen Johnson, a Presidente da Libéria, manteve neste sábado (05.11) vários encontros em Bissau sem conseguir encontrar uma solução ou reunir consensos entre PAIGC, Partido para a Renovação Social (PRS), grupo dos quinze deputados dissidentes do PAIGC, Assembleia Nacional Popular e o próprio governo. As divergências persistem e não há luz no fundo de túnel que consiga tirar o país do impasse que perdura há mais de um ano.
O PAIGC, vencedor das eleições legislativas com maioria absoluta, mas que expulsou 15 dos 57 deputados eleitos, continua a exigir que o Presidente lhe devolva o poder.
O PRS, segunda força política mais votada nas eleições legislativas e que suporta o atual Governo de Baciro Djá, quer que seja nomeada uma nova figura para o cargo do primeiro-ministro, tendo em conta a nova maioria parlamentar formada entre o partido e o grupo dos quinze deputados dissidentes do PAIGC.
Por seu lado, Baciro Djá, atual primeiro-ministro, entende que o seu Governo tem maioria parlamentar e que, por isso, deve continuar no Governo.
O impasse e a crise política continuam, e o país segue com greves a acontecer em vários setores da economia, sobretudo na saúde e educação, provocando uma grande agitação social no país.