1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Guineenses marcham pela estabilidade dentro e fora do país

António Rocha / Lusa14 de agosto de 2015

Multiplicam-se os apelos para que seja alcançado um consenso na Guiné-Bissau, após a demissão do Governo de Domingos Simões Pereira. Bissau e Lisboa são palco de manifestações nos próximos dias.

https://p.dw.com/p/1GFog
Foto: Getty Images/AFP/A. Balde
O Presidente da República da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, deu início esta sexta-feira (14.08) às consultas com vista à nomeação de um novo primeiro-ministro.

Ao mesmo tempo, no país e no estrangeiro, os cidadãos guineenses juntaram as suas vozes às da comunidade internacional para solicitarem às partes em conflito a procura de um consenso, visando resolver da melhor forma a crise política que resultou no afastamento do primeiro-ministro Domingos Simões Pereira.

Mulheres do Presidente e primeiro-ministro convidadas a marchar

Este sábado (15.08), a delegação em Bissau da Rede Paz e Segurança para as mulheres da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) realiza uma marcha na capital guineense para manifestar a insatisfação pela crise política que se vive no país lusófono.

O anúncio da manifestação foi feito por Elisa Tavares Pinto, presidente da delegação em Bissau da organização. “Há sempre espaço para o diálogo, para que o país não caia num abismo”, diz a ativista. Elisa Tavares lamenta que “tudo o que foi conseguido nesta governação tenha voltado para trás”, afirmando que a sua organização apela “à paz e à estabilidade”.

Elisa Tavares Pinto
Elisa Tavares Pinto preside à delegação em Bissau da Rede Paz e Segurança para as mulheres da CEDEAOFoto: privat
“Vamos convidar a mulher do Presidente da República e a mulher do ex-primeiro-ministro a aderirem à nossa marcha”, revela a presidente da delegação em Bissau da Rede Paz e Segurança para as mulheres da CEDEAO. Elisa Tavares Pinto lança ainda um apelo aos políticos guineenses, afirmando que “os dirigentes têm de olhar para o povo martirizado há vários anos”. “As primeiras vítimas somos nós, as mulheres, e as crianças. Apelo às mulheres para que participem nesta marcha, porque o país não pode ficar neste impasse”.

Semana arranca com paralisação em Bissau

Também Jorge Gomes, presidente do Movimento Nacional da Sociedade Civil da Guiné-Bissau, que reúne 160 organizações nacionais, disse à DW África que está ser organizada uma manifestação que deverá ter lugar na próxima segunda-feira (17.08) em Bissau.

[No title]

“Queremos realizar o protesto num dia normal de serviço para poder paralisar todos os transportes”, explica o ativista, acrescentando que “não haverá trabalho na função pública para que a marcha tenha impacto”. Segundo Jorge Gomes, as organizações do Movimento da Sociedade Civil vão realizar uma vigília em frente à Presidência da República.

“Mesmo que termine o seu mandato, o Presidente tem a vida feita. Mas a população, a camada mais desfavorecida, se não tiver o apoio da comunidade internacional, vai viver sempre mal”, diz o presidente do Movimento guineense. “Queremos estabilidade para que os investidores invistam no nosso país e que as pessoas tenham trabalho. Não defendemos nem o Presidente nem o primeiro-ministro, queremos é que o país se desenvolva”, conclui.

José Baldé
José Baldé, presidente do Fórum da Diáspora para o desenvolvimento da Guiné-BissauFoto: privat
Marcha em Lisboa e apelos à calma na diáspora

Em Lisboa, o Fórum da Diáspora para o desenvolvimento da Guiné-Bissau convocou também uma marcha para este sábado. O protesto termina à porta da embaixada da Guiné-Bissau em Portugal, onde será entregue um manifesto dirigido às autoridades em Bissau.

José Baldé, presidente do Fórum da Diáspora, explica que se trata de “uma carta especial dirigida ao Presidente da República e ao primeiro-ministro em que se apela à resolução do diferendo unicamente através do diálogo”.

José Baldé espera obter uma resposta positiva das autoridades guineenses, uma vez que “ainda não se esgotaram todas as possibilidades”. O ativista considera que os dirigentes guineenses devem “deixar os diferendos pessoais de lado e pôr na frente de tudo o interesse nacional, que é o interesse do povo da Guiné-Bissau”.

Também a comunidade guineense residente na Alemanha recebeu a notícia de demissão do governo de Domingos Pereira com espanto e preocupação. Pedro Jandin, residente em Hamburgo, espera “que haja serenidade na tomada de posições para contornar o mais rapidamente possível esta situação”.

Arnaldo Silva
Arnaldo Silva, fotógrafo guineense residente em Colónia, na AlemanhaFoto: privat
“A diáspora quer relembrar ao Presidente da República e ao PAIGC que hoje, mais do que nunca, têm a responsabilidade de devolver a paz, a prosperidade e a segurança ao povo guineense. Têm a obrigação de ultrapassar esta crise”, diz Jandin, acrescentando que este “não é um pedido mas sim uma exigência”.

Também o fotógrafo guineense Arnaldo Silva, residente na cidade de Colónia, oeste da Alemanha, espera que seja encontrado um consenso entre as partes para o bem do desenvolvimento da Guiné-Bissau.

“Esperávamos que o Governo chegasse pelo menos ao final do mandato. Foi uma surpresa para todos”, diz o fotógrafo guineense, pedindo às autoridades “que tenham mais calma e cautela”, uma vez que “o país vinha já de uma situação complicada e todos tinham esperança que as coisas andassem para a frente”. “Estão a começar a aparecer travões e barreiras à democracia. Espero que o Presidente não tenha feito isto de ânimo leve e que explique à população o que está a acontecer”, conclui.

ONU mantém sanções a militares

Pedro Jandi
Pedro Jandin, guineense residente em Hamburgo, na AlemanhaFoto: J. Rachid
Entretanto, a comissão do Conselho de Segurança da ONU que administra as sanções aplicadas a 11 militares da Guiné-Bissau deverá mantê-las perante os receios de instabilidade no país, anunciou esta sexta-feira (14.08) o portal do 'Security Council Report' uma organização que acompanha o trabalho das Nações Unidas.

Tal acontece numa altura em que "alguns membros do Conselho de Segurança estavam inclinados a acabar com as sanções, por considerarem que o principal objetivo - pressionar os autores do golpe de 2012 para restaurar a ordem constitucional - estava atingido há mais de um ano".

No entanto, com a queda do Governo, o apoio às sanções deve agora manter-se. As restrições impostas consistem numa medida única: proibição de viajar para quem esteve ligado ao comando militar que liderou o golpe de Estado de 2012 - sendo que a lista atualizada inclui 11 militares dos diferentes ramos das forças armadas, dos quais 10 oficiais e um inspetor-geral.
Saltar a secção Mais sobre este tema