Guiné-Bissau: MADEM-G15 pressionado a abandonar Governo
31 de maio de 2021A situação política na Guiné-Bissau dá sinais de agitação depois dos quadros técnicos e a juventude do Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15) terem criticado publicamente o acordo político que sustenta o atual Governo, afirmando que o partido está a ser "prejudicado".
O MADEM-G15 queixa-se de demissões dos seus membros em vários setores governamentais. O último caso aconteceu com um dos líderes do partido, Bamba Banjai, que foi demitido na quinta-feira (27.05) das funções de diretor-geral da Imprensa Nacional (INACEP) pelo Conselho de Ministros.
O mal-estar dentro do partido já levou os quadros técnicos a exigir a retirada do MADEM-G15 da atual coligação governamental. No entanto, esta posição não é partilhada pelos jovens daquela força política, que desejam permanecer no Governo.
"Houve alguns atropelos ao acordo [político que sustenta o atual Governo] no meio do caminho e nós, enquanto jovens do partido [MADEM-G15], exigimos à direção superior do partido que explique o que está a acontecer dentro do acordo da governação, porque fala-se muito que algumas pastas já não pertencem ao MADEM-G15 e queremos que a direção explique isso", informa Carlos Sambú, porta-voz da juventude do partido.
"Nós, enquanto jovens, não queremos que o MADEM-G15 saia da aliança, mas que denuncie o acordo, porque não está a favorecer o partido", frisa.
Mágoas passadas
O descontentamento do MADEM-G15 não é de agora. Em abril, depois da remodelação governamental, o partido enviou uma reclamação formal ao Presidente Umaro Sissoco Embaló, argumentando que tinha sido prejudicado ao lhe serem retiradas duas pastas governamentais - as secretarias de Comunicação Social e de Turismo - que são agora Ministérios sob controlo de outros partidos.
A deterioração da relação do MADEM-G15 com o chefe de Estado - que foi o seu candidato oficial para a Presidência da República - ficou patente quando, na semana passada, o partido decidiu juntar-se às outras forças políticas da oposição e votou contra a inclusão do projeto da nova Constituição da República, recomendada por Umaro Sissoco Embaló, na agenda dos trabalhos da Assembleia Nacional Popular (ANP).
"Na minha opinião, isto não passa de uma estratégia de fuga para a frente, que visa fundamentalmente provocar a queda do Governo do [primeiro-ministro] Nuno Gomes Nabiam e num segundo passo provocar eleições antecipadas dentro de 90 dias no país", comenta o analista político Jamel Handem.
Dissolução da ANP: a única solução?
Para o editor-chefe do Semanário Última Hora, Sabino Santos, "se essa reclamação do MADEM-G15 for genuína, a única solução, de facto, é a dissolução da Assembleia Nacional Popular".
"Portanto, o cenário da dissolução da ANP, a meu ver, coloca-se, só que pode acarretar ainda mais riscos para o próprio regime", assevera o jornalista.
Desde que o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) foi afastado do Governo em março de 2020, o MADEM-G15, o Partido da Renovação Social (PRS) e Assembleia do Povo Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB) passaram a governar o país através de um acordo político, que agora parece estar em causa.