Guiné-Bissau vive dias de caos a uma semana da segunda volta das presidenciais
12 de maio de 2014A campanha eleitoral para a segunda volta das presidências do próximo domingo (18.05.14) na Guiné-Bissau, decorre a um ritmo lento e tímido sem grandes propagandas dos dois candidatos, José Mário Vaz do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e o independente Nuno Gomes Nabiam.
Segundo analistas, a falta de meios financeiros é o grande obstáculo, pelo que ambos estão a recarregar as baterias para o último dia de caça-ao-voto, próxima sexta-feira (16.05.14).
Pelo mesmo motivo, o caos instalou-se no país. Há greves por todo lado. Funcionários públicos não recebem há mais de quatro meses seus salários. Ministérios esvaziam-se às 12h, muitas vezes por faltar energia ou porque os funcionários não aparecem nos postos de serviço.
Selecção nacional de futebol em risco
No domingo (18.05.2014), dia da segunda volta, a selecção nacional de futebol da Guiné-Bissau deve defrontar a Republica Centro-Africana (RCA) para a eliminatória do Campeonato Africano das Nações 2015 (CAN), em Bangui, capital da RCA.
O Governo já disse que não tem nem um tostão para financiar a selecção que, em caso de ausência, pode ser punida com dois anos de suspensão de todas as competições internacionais.
Os jogadores ameaçam não votar, caso não haja dinheiro para o CAN 2015. O próprio presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau, Manuel Nascimento, cobra o destino da verba pública.
"Queremos saber do dinheiro dos impostos que o Governo cobra todos os meses, o dinheiro da madeira que vendem todos os dias," pergunda.
Nascimento reclama dos investimentos feitos pelo Governo. "Olhem para as caravanas de carros topo de gama comprados nestas eleições, aparelhos de som modernos. Não entendo como é que não podem ajudar uma equipe nacional de futebol que vai elevar a bandeira nacional ao mais alto nível no mundo," reclama.
O presidente da federação de futebol convidou os guineenses para uma manifestação contra as políticas do Governo, no dia da segunda volta.
Possibilidade de se anular o ano lectivo
Entretanto, ao longo dos últimos dias, os alunos têm realizado manifestações para exigir o regresso às aulas, mostrando receio face à possibilidade de o ano lectivo vir a ser anulado.
O ministro da Educação do Governo de Transição, Alfredo Gomes, admite que o ano lectivo pode vir a ser anulado nas escolas que tiveram "pouco aproveitamento".
Laureano Pereira, presidente do Sindicato Democrático dos Professores (Sindeprof), diz entender a posição do ministro da Educação, mas adverte para o prolongamento de uma nova greve dos professores, desta feita de 33 dias úteis, que iniciou nesta segunda-feira, o que "poderia comprometer ainda mais o ano lectivo".
"É da competência do Governo validar o ano lectivo e não anular. Mas a norma diz que o conteúdo programático terá que ser de 65%. Caso não atingir, o ano nunca poderá ser validado," explica.
Sobre a anulação do ano lectivo em apenas algumas escolas, Pereira avalia que "o princípio de igualdade deve prevalescer. Quando estou falando do princípio da igualdade, não estou referendo às escolas privadas. Estou falando das escolas públicas."
Devido a estas posições de reclamações, Laureano Pereira, revela ser alvo de ameaças.
"Alguém me ligou dizendo que sou responsável pelo não funcionamento das aulas, responsável com que os alunos ficassem em casa sem ter a oportunidade de ir à escola, estou perturbando a sociedade, estamos numa situação das eleições, estou criando problemas e tenho que escolher: ou a vida, ou a retoma das aulas," denuncia.
Diante das intimidações, o presidente do Sindeprof declarou não duvidar das ameaças. "Sabemos a sociedade onde estamos. As pessoas falam, muitas coisas já aconteceram relativamente a esses tipos de ameaças de, no futuro, vir a ser uma realidade," conclui.
Bissau a meio gás na ultima semana da campanha eleitoral, sob agravamento da crise social no país.