Gâmbia: Comissão investiga crimes da era Jammeh
16 de outubro de 2018Os 11 membros que integraram este grupo de investigação formado na segunda-feira (15.01) vão começar a ouvir testemunhas sobre os 22 anos de opressão do regime de Yahya Jammeh, com o objetivo de punir os responsáveis e fazer, finalmente, justiça.
Yahya Jammeh chegou ao poder em 1994, depois de um golpe de Estado. Estabeleceu um regime de opressão, durante o qual muitos dos seus opositores foram sequestrados e torturados. Foram 22 anos de execuções sumárias, tortura e violação por parte da temida Agência Nacional de Inteligência, à qual nem jornalistas escaparam.
Inspirada na investigação sobre o apartheid levada a cabo na África do Sul, a Comissão da Verdade e Reconciliação da Gâmbia pretende repor a verdade. "O medo dominou o nosso país por mais de duas décadas. Com as mães a temer todas as noites que os seus filhos e maridos não regressassem a casa por terem sido sequestrados ou abatidos", recorda o atual ministro da Justiça da Gâmbia, Abubakar Tambadou. "A tortura era diária", frisa.
Responsáveis à solta
Muitos dos responsáveis por este tipo de crimes foram presos, mas outros, como Yahya Jammeh, vivem no exílio.
"Para que este país avance é preciso esforçar-se para perceber quais foram os erros do passado. Deve identificar e fazer com que os responsáveis respondam [pelos seus atos]. Trazer a justiça que as vítimas e as suas comunidades tanto desejam", comenta Fatou Bensoud, da Procuradoria-Geral do Tribunal Penal Internacional (TPI).
OJ e Baba Hydara são duas das vítimas que sofreram nas mãos dos agentes de segurança de Jammeh e saúdam a criação desta Comissão. "Sofri bastante, fui preso e torturado 22 vezes, até perdi um olho. A minha esposa foi presa, juntamente com os meus amigos. Um deles não aguentou a tortura e morreu. Esta comissão trará justiça, especialmente para as pessoas que perderam alguém de quem gostavam", considera OJ.
"O meu pai era jornalista. Um dia, quando estava a ir para o trabalho, foi baleado e morreu. A partir daí, tenho viajado de país em país em busca de justiça", diz Baba Hydara.