Herdeiro de Merkel vive pior resultado da CDU desde 1950
27 de setembro de 2021O candidato conservador Armin Laschet amarga um resultado negativo histórico para a União Democrata-Cristã (CDU) nas eleições legislativas da Alemanha. Desde 1950, os conservadores não tinham um desempenho tão fraco num pleito para o Bundestag, o Parlamento alemão.
Armin Laschet liderou nos últimos anos o estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália. Em teoria, é o trampolim ideal para a chancelaria federal. Mas o candidato apanhou vários sustos durante a campanha.
Em meados de julho, depois de inundações que provocaram mais de 180 mortos no estado da Renânia-Palatinado e no seu próprio estado, o político de 60 anos de idade foi alvo de muitas críticas.
Durante uma visita à cidade de Erftstadt, enquanto o Presidente alemão Frank-Walter Steinmeier aparecia na televisão a manifestar o seu pesar pelas mortes e destruição na região, Laschet estava atrás, aparentemente a rir-se de uma piada, juntamente com outros responsáveis locais. O político pediu desculpa pelo sucedido.
Mas as polémicas não ficaram por aí. Depois do desastre, Armin Laschet afirmou: "Não vamos mudar toda a nossa abordagem só por causa de um dia como este". A declaração não caiu bem, pois muitas pessoas começavam a ver uma possível ligação entre desastres naturais como aquele e as mudanças climáticas.
Mais tarde, Laschet voltou atrás: "Temos todos de fazer o que pudermos para lutar contra as alterações climáticas", afirmou.
Esta é uma das críticas a Laschet: a inconstância nas suas promessas de defesa do clima. Muitos perguntam: o que é que o político defende realmente?
Aliado de Merkel
O antigo advogado e jornalista é tido como um acólito de Angela Merkel. Quando a chanceler foi criticada por algumas alas da União Democrata-Cristã (CDU) em relação ao acolhimento de centenas de milhares de refugiados, desde 2015, Laschet manteve-se fielmente ao seu lado.
Tal como a chanceler, Armin Laschet é também adepto de uma CDU centrista. "Só venceremos se continuarmos fortes ao centro", é uma frase que Laschet gosta de repetir nos comícios.
Laschet tem uma bagagem de décadas na política, incluindo a liderança da Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso da Alemanha, desde 2017.
"Um chefe estadual que governou com sucesso um estado com 18 milhões de pessoas também pode ser chanceler", diz Laschet.
Durante a campanha, o político católico, natural da cidade de Aachen, gosta de aludir às suas raízes renanas. Até hoje, só houve um chanceler oriundo da Renânia do Norte-Vestfália - Konrad Adenauer, o primeiro a governar a Alemanha no pós-guerra, entre 1949 e 1963.
Laschet vs. Söder
Na corrida pela candidatura dos conservadores à chancelaria, Laschet derrotou Markus Söder, o líder da União Social-Cristã (CSU), o partido-irmão da CDU na Baviera.
Söder gosta de se apresentar como alguém dinâmico, voltado para o futuro e carismático - os críticos usam mais a palavra "oportunismo". Mas a verdade é que, nas sondagens, o político de 54 anos é bastante mais popular do que Laschet.
Mesmo assim, Laschet conseguiu convencer os conservadores de que seria a melhor aposta a longo prazo.
Experiência até no Parlamento Europeu: um "verdadeiro europeu"
Armin Laschet tem mais experiência política do que Angela Merkel, quando ela se tornou chanceler. Além do seu passado como jurista e jornalista, desempenhou cargos em instituições locais, estaduais e federais, e até no Parlamento Europeu.
Tendo crescido numa região que faz fronteira com a Bélgica, Laschet pode ser considerado como um "verdadeiro europeu". As raízes da sua família estendem-se até à Bélgica, e o político fala fluentemente francês. Desde 2019, é também representante da Alemanha para as relações culturais franco-alemãs, e mantém laços estreitos com Paris.
Relativamente às relações transatlânticas, Laschet está um pouco mais atrás, embora tenha realizado uma "tour" pela EUA em 2019. O político promete reforçar a cooperação com Washington em questões como o clima e o comércio.