Huawei: Ao serviço do Estado e do partido chineses?
21 de janeiro de 2019Muitos alemães têm um smartphone da Huawei e, provavelmente, nem pensam muito sobre isso. No entanto, perante as notícias das últimas semanas, há quem se questione sobre o que realmente se passa com a misteriosa empresa da China. Que acusações são estas, de corrupção e espionagem? Qual o nível de independência da Huawei em relação ao Estado e serviços de inteligência chineses?
As perguntas colocam-se numa altura em que a Alemanha debate a eventual participação da Huawei na expansão das futuras redes de telecomunicações móveis de Quinta Geração (5G) do país.
As autoridades norte-americanas sugerem que a gigante chinesa de tecnologias da comunicação Huawei poderá estar a cumprir ordens do Estado chinês e lançam o alerta: os equipamentos de rede do grupo podem conter mecanismos de espionagem cibernética.
Alguns países já baniram a Huawei dos seus mercados. A Austrália e a Nova Zelândia, por exemplo, excluíram a Huawei da expansão da rede 5G nos seus países. E o mesmo está a ser debatido na Noruega e na Polónia.
Na Alemanha, o diário Handelsblatt avançou na quinta-feira (17.01) que o Governo de Angela Merkel está a considerar implementar requisitos mais rígidos de segurança e outras medidas para excluir a Huawei do desenvolvimento da rede 5G. O Ministério do Interior não confirma, adiantando apenas que o debate sobre medidas concretas ainda está a decorrer e que "a segurança da futura rede 5G é de grande relevância".
Huawei nega mas já sofre consequências
Na quarta-feira (16.01), a imprensa norte-americana revelou que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos está a investigar a gigante de tecnologia chinesa por alegado roubo de segredos comerciais de cidadãos norte-americanos. Só esta medida já retira a Huawei do mercado de tecnologia e equipamento de rede dos Estados Unidos.
No Canadá, o caso assumiu dimensões bizarras: a diretora financeira da empresa, Meng Wanzhou, filha do fundador, Ren Zhengfei, foi detida, em Vancouver, a pedido dos Estados Unidos, por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis.
A executiva foi, entretanto, libertada sob fiança por um tribunal canadiano, e aguarda que as autoridades norte-americanas apresentem um pedido formal de extradição.
No entanto, após a detenção de Meng Wanzhou, dois canadianos foram detidos na China, numa aparente retaliação. Também esta semana, um tribunal chinês condenou à pena de morte um cidadão canadiano, por tráfico de droga.
O CEO Ren Zhengfei raramente fala à comunicação social. No entanto, perante as graves alegações contra a empresa, acabou por ceder. Em declarações à imprensa norte-americana, garantiu que nunca tinha sido solicitado por qualquer governo para "fornecer informações ilegais". E acrescentou: "Amo o meu país, apoio o Partido Comunista, mas nunca faria nada para prejudicar qualquer país no mundo".
Indústria alemã não exclui gigante chinesa
A expansão da rede 5G é um enorme investimento financeiro para a economia alemã. Trosten Gerpott, professor de Economia das Telecomunicações na Universidade de Duisburg-Essen, afirma que o custo final do empreendimento ainda não pode ser previsto com total clareza, mas estima que possa atingir "entre 30 a 80 mil milhões de euros nos próximos 20 anos".
Até agora, o ministro alemão da Economia, Peter Altmeier, não apresentou quaisquer objeções à participação da Huawei no desenvolvimento da rede 5G no país. O Serviço Federal de Segurança de Informação da Alemanha (BSI) rejeita igualmente um boicote ao grupo chinês.
Também a Federação das Indústrias Alemãs (BDI) considera que nenhum concorrente deve ser excluído por uma simples suspeita de ameaça à segurança. "Se alguém faz estas suposições, tem o dever de as provar", disse o presidente do BDI, Dieter Kempf.
Na mesma linha, o economista Torsten Gerpott apela à contenção. As alegações contra a empresa chinesa estão longe de ser provadas: "Já há um certo preconceito contra a Huawei e ainda não há provas claras de que a lei tenha sido violada".
Alternativas ao gigante chinês
A Huawei era, até agora, considerada a favorita na corrida à expansão da rede 5G na Alemanha, mas não é a única candidata. A empresa chinesa é líder de mercado, mas há duas concorrentes: a sueca Ericsson e a finlandesa Nokia. "As três detêm entre 80% a 85% do mercado de equipamentos de rede 5G", lembra Gerpott.
Embora a Nokia tenha anunciado que quer despedir mais de 500 dos seus 3.500 funcionários na Alemanha, o economista afirma que este não é um sinal de desistência, pelo contrário: "A Ericsson e a Nokia estão a sair-se bem".
Para o economista Ulrich Heimeshoff, professor de Economia na Universidade Heinrich Heine, em Düsseldorf, a Huawei é a favorita porque "numa proposta, o que conta normalmente é o preço".
Para Heimeshoff, cabe ao BSI lidar com as questões de espionagem industrial ou outras acções de espionagem e o diretor do departamento, segundo o economista, "expressou otimismo" quanto ao desenvolvimento da rede 5G.
Torsten Gerpott partilha desta opinião, afirmando que "o BSI deve adoptar padrões de segurança que garantam que o operador de rede [a Alemanha, neste caso] não possa ser traído sem notar".
"O BSI não é infalível, mas a agência deve continuar a trabalhar para definir padrões para minimizar os potenciais de espionagem", conclui.