Moçambique: Oferta de sementes e comida tenta prevenir fome
13 de abril de 2019As agências das Nações Unidas, para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Mundial Alimentar (PMA), estão a fazer a distribuição conjunta de sementes e comida a 15 mil famílias camponesas vítimas do ciclone Idai no centro de Moçambique.
O primeiro lote, que começou a ser distribuído esta semana aos camponeses em aldeias dos distritos de Nhamatanda e Búzi (Sofala) e Sussundenga e Macate (Manica), continha 180 toneladas de sementes de milho e feijão, além de mais de 500 toneladas de arroz, feijão e óleo alimentar.
Segundo as autoridades, o objetivo é prevenir a insegurança alimentar e recaídas, bem como venda de outras doações ou poupanças nos cuidados de saúde.
"O ciclone Idai destruiu praticamente todas as culturas na fase de colheita" disse à Lusa Olman Serrano, representante da FAO em Moçambique, sustentando que a distribuição simultânea de sementes e comida "vai permitir que se evite perder a semente por causa da fome".
Caso não fossem distribuídos os alimentos, "as famílias podiam confecionar as sementes para se alimentar, o que não seria saudável".
O responsável disse ainda que os "kits" distribuídos - sementes de ciclo curto, duas enxadas e uma catana - vão permitir que os camponeses recomecem o ciclo agrário, com a segunda época da agricultura de sequeiro, que inicia em abril.
Cada "kit" permite que um camponês produza meio hectare de milho e um hectare de feijão, sendo desafiado a colher 600 quilogramas de milho e 150 quilogramas de feijão, respetivamente - o suficiente para assegurar alimentos por seis meses, até a principal época agrícola, que arranca em outubro.
Desafio a longo prazo
Olman Serrano reconheceu, contudo, que continua a ser um desafio a segurança alimentar da população, após as perdas de culturas nas áreas afetadas, que já viviam em regime de subsistência, devido à falta de produção em quantidade.
Numa segunda fase, será fornecido aos camponeses sementes de hortícolas de alto rendimento no inverno.
Por sua vez, Karin Manente, representante do PMA em Moçambique, considerou crucial a necessidade de alimentar as famílias camponesas, vítimas do ciclone Idai, para assegurar que possam recomeçar o ciclo de produção agrícola, para a sua autossuficiência.
"É importante continuar a dar assistência alimentar às famílias camponesas afetadas, até elas conseguirem se abastecer com as suas culturas" disse à Lusa Karin Manente.
Por seu turno, Higino de Marrule, ministro moçambicano da Agricultura e Segurança Alimentar, que orientou a cerimónia de entrega em Ndedja, uma aldeia de Tica, distrito de Nhamatanda, apelou à população camponesa que retire proveito da humidade nas áreas inundadas pelas chuvas, após a passagem do ciclone, para uma maior produtividade.
A FAO estima que o ciclone já tenha causado a perda de cerca de 500 mil hectares de colheitas na região centro de Moçambique, agravando a insegurança alimentar da área e do país.
Solidariedade lusófona
Entretanto, Portugal e Cabo Verde apelaram este sábado (13.04), na declaração conjunta assinada na V Cimeira bilateral, à comunidade internacional para que continue a reforçar o apoio a Moçambique, na sequência do ciclone Idai.
“Em plena solidariedade para com Moçambique, os chefes de Governo expressaram, na ocasião, o seu profundo pesar pelas vítimas do ciclone Idai, cujas consequências dramáticas se fazem ainda sentir, reiterando a sua profunda solidariedade para com o povo irmão moçambicano e a sua total disponibilidade para apoiar as respetivas autoridades. Apelaram, ainda, à comunidade internacional para que continue a reforçar o apoio a Moçambique”, refere a declaração conjunta da reunião bilateral entre os Governos de Portugal e Cabo Verde, que terminou em Lisboa.
Em Moçambique, o ciclone fez 603 mortos e 1.642 feridos e afetou mais de 1,5 milhões de pessoas, segundo o mais recente balanço.