Ilha do Príncipe é Reserva da Biosfera mundial
12 de julho de 2012Menos de um ano após a apresentação da sua candidatura, a ilha do Príncipe, no arquipélago lusófono de São Tomé e Príncipe, viu aprovada, na quarta-feira (11.07), a sua candidatura de Reserva da Biosfera da UNESCO, a Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura.
O Conselho Internacional Coordenador do Programa Homem e Biosfera da UNESCO, reunido em Paris, esta semana, aprovou já 20 candidaturas, dispondo assim de 598 reservas em 117 países.
De floresta húmida, localizada no golfo da Guiné, o Príncipe, com pouco mais de 140 quilómetros quadrados, alberga cerca de 40 espécies endémicas, ou seja, que só existem naquela ilha.
Orgulhoso de ver o Principe reconhecido pela UNESCO, o governador, José Cassandra explicou à DW África que há várias razões para a aprovação da candidatura “desde o habitat aquático, onde nós temos espécies de tartaurgas marinhas; nós temos 59% da ilha do Príncipe reservada a parque natural, com extensão para o mar; a zona das Pedras Tinhosas, onde temos patos aquáticos endémicos; e a nossa fauna, sobretudo no que respeita aos pássaros e à flora endémicos “.
Além disso, José Cassandra destaca “o equilibrio que existe, no Príncipe, entre a conservação e o desenvolvimento, sobretudo a convivência entre o homem e a natureza. Portanto, quer dizer que a grande parte da natureza autóctone ainda existe na ilha”.
Príncipe tem responsabilidade acrescida
O trabalho de proteção e conservação da biodiversidade da ilha do Príncipe exigiu, segundo o governador, cerca de dois anos de trabalho intenso no terreno, em conjunto com a população.
Mas, se por um lado, a declaração de Reserva da Biosfera da UNESCO é um título de reconhecimento, José Cassandra considera que traz consigo o peso de maior responsabilidade.
Isto porque, tal como refere o governador, “se já fazíamos alguma atenção com a proteção e conservação da nossa natureza, da nossa biodiversidade, neste momento, temos de fazer muito mais, temos que redobrar”.
De acordo com José Cassandra, o trabalho de conservação e proteção das autoridades vai ser seguido de perto pela UNESCO. E, assim, “o que temos de fazer é aumentar os níveis de conservação quer da floresta quer dos recursos. Por exemplo, a extração de areia para construção vai ser difícil agora, vai ter que se aumentar o nível de controlo".
Para José Cassandra, é altura para "avançar com a lei da caça que não existe ainda. Nós temos que avançar com essa lei com cuidado, numa perspetiva de proteger quer os pássaros quer outros animais, alguns deles endémicos. Mesmo a pesca não poderá ser feita de uma forma anárquica, como nós temos vindo a fazer. Aí vai haver limitação”.
A inclusão do Príncipe na Rede Mundial de Reservas da Biosfera deverá também captar investimento no turismo ecológico, cada vez mais em voga, mas também ao nível de investigação. É essa a opinião da bióloga Joana Hancock, que, pela Associação Tartarugas Marinhas, parte em breve para a ilha do Príncipe.
Na opinião da bióloga, o reconhecimento da UNESCO “vai trazer, com certeza, bastantes oportunidades ao país para conseguir apoios institucionais e financeiros para proteger a sua biodiversidade, que é realmente impressionante. Trazer ao mundo esta biodiversidade e este conhecimento vai despoletar muito interesse internacional para financiar mais projetos de investigação, se tudo correr bem, para finaciar mais projetos de conservação”.
Também para a comunidade do Príncipe, o reconhecimento da ilha como Reserva da Biosfera “vai ser muito interessante” pois pode “ valorizar aqueles recursos ecológicos e biológicos”, conclui Joana Hancock.
Entre as 20 novas Reservas da Biosfera no mundo, anunciadas pela UNESCO, constam no continente africano, além da ilha do Príncipe, outras duas, nomeadamente, a reserva de Sheka, na Etiópia e o deserto de Ferlo, no Senegal.