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Imprensa alemã destaca Mali

4 de janeiro de 2013

A intervenção militar da França no Mali ocupa grande espaço das páginas dos jornais alemães. Quais as posições do Mali e nos países europeus? Esta e outras questões são objeto de análise por parte dos comentadores.

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PresseschauFoto: Fotolia

O matutino Süddeutsche Zeitung, editado em Munique, publica uma reportagem intitulada "No inferno" e no qual se descreve as condições de vida nos territórios do Mali controlados pelos islamistas.

Islamistas transformaram Timbuktu num "inferno"

E o jornal salienta o caso da cidade de Timbuktu, que era um oásis cultural e o deixou de ser desde que os islamistas tomaram conta dela:

Mais de 400mil malianos fugiram dos islamistas para Bamako
Mais de 400mil malianos fugiram dos islamistas para BamakoFoto: picture-alliance/dpa

"Cultura, dança, festas tradicionais exuberantes, casamentos - Timbuktu tinha isso tudo em abundância. Aqui as pessoas sempre souberam viver. Com a vinda dos islamistas tudo isso acabou. Agora reina o medo. O silêncio. A vida pública desmoronou, confirma o Senhor Mahamane, diretor da Rádio Al Faruk, uma de duas rádios que ainda estão no ar em Timbuktu. Seis outras já deixaram de emitir. O Sr. Mahamane conta que alterou radicalmente a grelha de programas. Antes tocava música, muita música, alguma ocidental, bandas como os Pink Floyd. Agora apenas se emitem recitações do Corão."

Posição da França

O mesmo jornal, o Süddeutsche Zeitung, publica também um artigo sobre a posição do governo francês: citamos:

Soldados franceses preparam-se para a intervenção no Mali
Soldados franceses preparam-se para a intervenção no MaliFoto: Reuters

"O ministro francês da defesa, Jean-Yves Le Drian, e o chefe do exército francês, Édouard Guillaud, disseram que o objetivo é expulsar os combatentes islamistas do território maliano. Para isso conta com o apoio de outros países, nomeadamente e sobretudo dos vizinhos africanos. A Nigéria deverá liderar o contingente africano que será composto de 3.300 soldados. Entretanto a França aumentará para cerca de 2500 homens o número de franceses no terreno. A pressão sobre os islamistas terá que aumentar para que a intervenção possa ser coroada de êxito."

Estados Unidos responsabilizados pela situação

O Frankfurter Allgemeine Zeitung, diário editado na cidade de Frankfurt, debruça-se sobre o papel dos Estados Unidos da América e avalia esse mesmo papel da super-potência mundial da seguinte forma:

Mapa dos alvos dos ataques aéreos no Mali
Mapa dos alvos dos ataques aéreos no Mali

"Os Estados Unidos carregam alguma responsabilidade pelo que aconteceu no Mali. É que as forças radicais que tomaram contra do Norte do Mali são constituidas por elementos de etnia tuaregue que outrora serviam o exército líbio do ditador Kadhafi e que fugiram com as suas armas para o Mali, depois da intervenção dos americanos e seus aliados na Líbia. Acresce que Amadou Sanogo, o militar que liderou uma ofensiva contra o governo maliano, recebera formação nos Estados Unidos. Por este e por outros motivos, muitos africanos atribuem parte das culpas pelo que aconteceu no Mali aos Estados Unidos. Mas - verdade seja dita - a América dificilmente poderia ter evitado os problemas."

Apoio da Alemanha sabe a pouco

Noutro artigo o Frankfurter Allgemeine Zeitung avalia o papel da Alemanha neste conflito. Citamos:

Aparelhos de transporte Transall C-160 da força aérea da Alemanha
Aparelhos de transporte Transall C-160 da força aérea da AlemanhaFoto: Getty Images

"A chanceler Angela Merkel e o ministro alemão da defesa, Thomas De Maizière, asseguraram que concordam com a postura da França: a situação no Mali era muito tensa e requeria uma reação firme por parte da comunidade internacional. Mas se isso é verdade fica aqui a questão: porque é que a Alemanha contribui apenas com dois aviões de transporte para o êxito desta intervenção?"

Argélia leva a cabo operação contra ocupantes de campo de gás

Campo de gás na Argélia
Campo de gás na ArgéliaFoto: picture alliance / dpa

O jornal Neue Zürcher Zeitung, editado em Zurique, na Suiça de língua alemã, fala sobre a operação da Argélia contra o campo de gás, onde se encontravam muitos estrangeiros, sequestrados por islamistas, ocorrida na quinta-feira:

"O ministério argelino do interior confirmou a operação de resgate. O exército teria atacado os islamistas, que estariam cercados, sem hipótese de atingir os seus objetivos. Mas a operação - tudo o indica - terá corrido mal e vitimado dezenas de pessoas, entre elas alguns dos estrangeiros que lá trabalhavam. A ação dos islamistas no campo de gás argelino deve ser entendida como uma reação à intervenção francesa no Mali. O governo argelino do presidente Bouteflika - recorde-se - autorizou os aviões militares franceses a sobrevoar território argelino."

Moçambique: Mega-projeto agrícola ameaça pequenos agricultores

Finalmente destaque para um artigo publicado no jornal Neues Deutschland, editado em Berlim: Título: A "invasão do Corcovado". Nesse artigo fala-se, nomeadamente do mega-projeto agrícola "ProSavana", no norte de Moçambique, promovido por uma multinacional brasileira, japonesa e moçambicana. O jornal refere que na região de Nampula se vai produzir soja e milho em grande escala, para a exportação, seguindo o modelo praticado no sul do Brasil. Quem vai sofrer as consequências vão ser as camadas mais desfavorecidas em Moçambique. Citamos:

Moçambique: o projeto agrícola "ProSavana" é criticado por pôr em causa os interesses dos pequenos agricultores
Moçambique: o projeto agrícola "ProSavana" é criticado por pôr em causa os interesses dos pequenos agricultoresFoto: DW/G. Sousa

"Organizações da sociedade civil moçambicana como a UNAC, União Nacional de Camponeses, e a ORAM, Associação Rural de Ajuda Mútua, acusam os promotores do projeto de não terem dialogado com as populações locais. Essas temem a perda dos seus terrenos e das suas culturas de subsistência. E as preocupações têm fundamento."

Autor: António Cascais
Edição: António Rocha

Angola e República Centro-Africana em destaque na imprensa alemã