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Imprensa alemã pergunta: e se Mandela morrer?

2 de março de 2012

Jornais germânicos descrevem preparativos dos media e do governo sul-africano para eventual morte de Nelson Mandela. A previsão de segunda volta nas eleições senegalesas também foi tema de destaque na imprensa alemã.

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PresseschauFoto: Fotolia

“É supostamente secreto:o plano 'M'. Alguns jornalistas com boas fontes no governo sul-africano conhecem os detalhes. Outros fazem os seus próprios planos para o maior espectáculo mediático desde o funeral do Papa João Paulo II“, escreve o Die Tageszeitung.

Quando Nelson Mandela, 93 anos, morrer, o "mundo deve ser alimentado durante pelo menos uma semana com imagens", prossegue o jornal que descreve os preparativos oficiais e dos meios de comunicação social para um dos mais importantes "eventos" planetários: a morte de um herói do século XX.

Na África do Sul a imprensa tem sido comparada a abutres. "Instigada pela concorrência pelas melhores imagens e pelos melhores índices de audiência", descreve o Berliner Zeitung, há muito que traçaram os cenários possíveis para a morte, em Joanesburgo ou na sua casa de Qunu, do grande líder sul-africano.

O "senhor África". Nelson Mandela é a mais importante personalidade africana e muitos temem ficar "órfãos" com a sua morte
O "senhor África". Nelson Mandela é a mais importante personalidade africana e muitos temem ficar "órfãos" com a sua morteFoto: AP

Apesar das ondas de indignação causadas quando foram descobertas câmaras das agências Associated Press e Reuters, nos edifícios vizinhos à casa de Mandela em Qunu - um procedimento semelhante ao que  aconteceu no Vaticano antes da morte de João Paulo II - também o governo sul-africano tem guardado no segredo dos deuses os seus preparativos para este dia.

"No dia da morte não haverá tempo para preparativos", nota o Berliner Zeitung, e, por muito macabro que pareça, "cada jornalista tem na gaveta o obituário de um dos heróis do século XX já escrito”, segundo o jornal.

Tensão - mas "sem derramamento de sangue"

A segunda volta nas eleições senegalesas, disputadas pelo presidente cessante Abdoulaye Wade e pelo antigo primeiro-ministro Macky Sall, foi um dos temas africanos em primeiro plano na imprensa alemã desta semana.

“Vá-lá não houve derramamento de sangue”, titula, com alguma ironia, o Süddeutsche Zeitung. “Receava-se a eleição mais sangrenta da história do Senegal. Este país da África Ocidental - e o único na região que desde a sua independência da França, em 1960, nunca assistiu a um  golpe de Estado - viveu uma campanha eleitoral bastante dura. Pelo menos seis pessoas morreram durante os protestos”, escreve o diário.

A tensão num país, outrora  considerado como um modelo em África, cresceu nas semanas que antecederam o sufrágio. A repressão dos protestos contra a candidatura de Wade provocou, desde o final de janeiro, seis ou quinze mortes, consoante diferentes fontes, e inúmeros feridos.

A oposição defende que a recandidatura de Wade, 85 anos, presidente desde 2000, é ilegal porque a Constituição senegalesa prevê apenas dois mandatos. O chefe de Estado, apoiado pelo Conselho Constitucional, tem uma opinião diferente, alegando que as emendas constitucionais feitas em 2001 e 2008 lhe permitem apresentar-se aos 5,3 milhões de eleitores.

No Senegal, população é contra candidatura do presidente cessante Wade à eleição
No Senegal, população é contra candidatura do presidente cessante Wade à eleiçãoFoto: AP

“A rebelião dos jovens contra um  velho autoritário e obcecado pelo  poder fez pelo menos seis mortos", salienta o Berliner Zeitung ." As sondagens foram proibidas no domingo [26.02] e Abdoulaye Wade anunciou  que obteria 53 por cento dos votos”, o que não veio a acontecer.

"Se Wade  não tivesse insistido num terceiro mandato, poderia ter entrado para os livros de história como um presidente respeitável. Como o poeta Leópold Senghor, que conduziu o Senegal à independência e como o seu sucessor Abdou Diouf, que depois de ter perdido as eleições entregou o poder a Wade", salienta o Berliner Zeitung. Assim  será "recordado como um habitual ditador africano, corrupto e, caso seja necessário, violento", acrescenta o jornal.

Violência regressa à fronteira entre Sudão do Norte e do Sul

Menos de um ano decorrido desde a independência do Sudão do Sul, "Sudão do Norte e do Sul estão à beira de uma nova guerra", escreve o Frankfurter Allgemeine Zeitung.

O traçado da fronteira entre os dois países é apenas uma das vertentes deste conflito. "O Sudão do Sul interrompeu a produção de petróleo depois do Norte ter alegamente desviado para si grande parte", explica o jornal.

"O Sudão do Sul tem grandes reservas de pretróleo,  mas elas são transportadas através de um oleoduto até ao porto de Port Sudan [Norte]". Norte e Sul ainda não conseguiram chegar a  um acordo quanto ao preço a pagar pela utilização da infrestrutura“. Os conflitos fronteiriços causaram já 150 mortos.

O oleoduto entre o Sudão do Sul e do Norte tem sido o pomo da discórdia entre os dois países
O oleoduto entre o Sudão do Sul e do Norte tem sido o pomo da discórdia entre os dois paísesFoto: Reuters

Autor: Helena Ferro de Gouveia
Edição: Renate Krieger